O que fazer se o seu gato, já mais velho, começar a ter problemas de locomoção? Como ajudar seu cachorro se ele está com uma dor persistente? E se o pet está obeso a ponto de não conseguir subir direito no sofá? Para todos esses casos, em que o animal perdeu alguma capacidade funcional, o tutor pode recorrer a um fisiatra veterinário. O especialista vem sendo cada vez mais acionado, atuando com outros médicos veterinários, de clínicos a ortopedistas, de endócrinos a oncologistas.

Dono de um dia próprio no calendário nacional do mundo pet – o dia 16 de janeiro –, o fisiatra trabalha na reabilitação com abordagens que incluem hidroterapia, massoterapia e magnetoterapia. Vale observar que, com os bichos de estimação vivendo mais tempo, seu papel ganha mais importância para garantir qualidade de vida aos animais mais velhos.

Quem fala mais dessa especialidade é Renata Achkar, médica veterinária com especialização em ortopedia, fisioterapia, acupuntura e nutrologia animal. Ela é coordenadora dos serviços de fisioterapia e acupuntura na rede de hospitais Pet Care e atendimento na área de fisioterapia e acupuntura do centro veterinário Vet Quality, ambos em São Paulo.

IstoÉ Pet – Como é a regulamentação da fisiatria veterinária no Brasil?

Renata Achkar – A fisiatria é uma especialização na medicina veterinária. Por lei, apenas veterinários podem atuar na área. Técnicos, enfermeiros ou outros profissionais da saúde não possuem autorização para trabalhar na fisiatria veterinária. A especialidade trabalha com reabilitação animal atuando em parceria com todas as outras especialidades, uma vez que visa controle de dor e inflamação, retomar função locomotora e manutenção e saúde de todos os sistemas (como melhorar função pulmonar, imunológica, cardiovascular e neurológica). Também atuamos nos cuidados paliativos e na qualidade de vida. Para atuar como fisiatra veterinário, é necessário realizar graduação em instituição reconhecida pela MEC no curso de medicina veterinária e cursar a especialização na área (curso de 540h de carga horária com treinamento prático).

IstoÉ Pet – Como é o trabalho do fisiatra veterinário? Ele é mais acionado para a reabilitação física ou tem sido procurado para outras intervenções também? Como entender a dor dos animais e saber o grau de melhora?

Renata – O profissional atua, na maioria das vezes, em parceria com outras especialidades, como ortopedia, neurologia, clínica médica, endocrinologia, oncologia e intensivismo. A maior casuística concentra-se nas áreas de ortopedia e neurologia. Mas, aos poucos, a fisiatria tem ganhado mais espaço em outras especialidades, como ocorre com frequência na medicina humana. A dor dos animais precisa ser interpretada de acordo com sintomas, exame físico, relato dos tutores e comportamento do paciente. Os sinais nem sempre são muito claros. Alguns pacientes ficam agressivos, outros apáticos, por exemplo. Normalmente, identificamos a dor, colocamos em uma escala de classificação e, durante o tratamento, avaliamos a melhora com testes e exercícios propostos, palpação e exame físico, além da mudança de comportamento e relatos dos tutores.

IstoÉ Pet – A fisiatria tem avançado nos atendimentos? Quer dizer, no passado é provável que muitos tutores não pensassem nessa abordagem. E hoje? Quando o tutor deve buscar um fisiatra para seu pet?

Renata – Atuando há quase 20 anos na área, observo um avanço bem significativo da fisiatria, com mais indicações de colegas e busca do serviço pelos tutores. O tutor deve procurar a fisiatria em diversos casos, tanto agudo quanto crônico. Casos de dor, visando a melhora e o menor uso de medicamentos; dificuldade de locomoção; manutenção de massa magra; obesidade; tratamento oncológico; alterações neurológicas e pacientes geriatras, entre outros. Todos esses são casos de utilização do serviço. O especialista orienta ao tutor a necessidade de cada paciente. A fisiatria atua também na prevenção de diversas enfermidades e controle daquelas congênitas como a displasia coxofemoral ou cotovelo. Já temos o conhecimento de pré-disposição de enfermidades em algumas raças e a fisiatria atua na prevenção ou inibição da evolução do quadro.

IstoÉ Pet – Quais são os recursos da fisioterapia no tratamento dos animais?

Renata – A fisiatria possui muitos recursos para ajudar os pacientes. As modalidades são hidroterapia, cinesioterapia, massoterapia, laserterapia, ultrassom terapêutico, eletroterapia, magnetoterapia, fototerapia e terapia manual. Os exercícios podem ser passivos – como alongamento e mobilização articular –, ativos, resistidos ou assistidos. Nesses dois últimos, colocamos carga no exercício ou algum suporte para auxílio, respectivamente. Os exercícios também podem ser de resistência, visando mais o ganho de resistência, massa muscular e equilíbrio ou aeróbicos, visando benefícios com a fisioterapia do exercício, como maior gasto calórico, melhor função pulmonar, melhor perfusão tecidual e ativação dos sistemas locomotor e neurológico.

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IstoÉ Pet – Quais os desafios da fisiatria veterinária hoje? Com os pets vivendo mais, o papel do profissional se torna ainda mais importante?

Renata – Os desafios atuais ainda estão na aderência ao tratamento devido ao tempo e custo. Na maioria dos casos, o paciente necessita em média de seis meses de tratamento, com frequência de duas vezes na semana. A fisiatria tem papel fundamental nos pacientes geriatras. Auxilia na manutenção de massa magra, mobilidade articular, controle de dor e doenças articulares degenerativas, ativação do sistema neurológico, melhora da imunidade e manutenção da função cardiorrespiratória. Os aparelhos se renovam constantemente com maior potência e mais segurança para os pacientes. O uso de próteses e órtese estão mais seguros e mais fáceis de utilização. Há diversos estudos na área de oncologia como tratamento coadjuvante, controlando crescimento tumoral e modulação do sistema imune, reduzindo também efeitos colaterais do tratamento oncológico. Já existe um papel superimportante na medicina humana e acredito que em breve também na medicina veterinária.

Renata Achkar: 'A fisiatria tem papel fundamental nos pacientes geriatras'.
Renata Achkar: ‘Já existe um papel superimportante na medicina humana e acredito que em breve também na medicina veterinária’. (Crédito:Divulgação/ Pet Care)