Setembro Amarelo é o mês de conscientização sobre a prevenção do suicídio, um tema que exige acolhimento e diálogo aberto. Nos últimos anos, uma prática tem chamado atenção por oferecer um apoio sensível e ao mesmo tempo científico: as intervenções assistidas por animais.
Quem já conviveu com um cão sabe: eles têm uma capacidade única de perceber nossas emoções. O adestrador Paulo Serrati, especialista em cães de terapia, explica que essa conexão vai além da intuição.
“Os cães não nos julgam nem exigem que disfarçamos o que sentimos. Eles oferecem uma alegria genuína em nos ver, algo que muitas pessoas em sofrimento emocional não conseguem experimentar nas interações humanas. É essa ponte afetiva que muda o jogo quando o cão entra no contexto terapêutico.”
Essa ponte, no entanto, não acontece de forma improvisada. Para atuar em hospitais, clínicas ou escolas, os cães precisam de treinamento rigoroso. Não basta serem dóceis. É preciso aprender a controlar impulsos, lidar com toques inesperados, respeitar espaços e manter o equilíbrio em ambientes desafiadores. Paulo destaca que esse preparo garante tanto a segurança de quem recebe o atendimento quanto o bem-estar do próprio animal.
E é justamente aí que entra o olhar da médica veterinária Cinthia Rosolen. Ela lembra que não se pode falar em terapia assistida sem cuidar dos protagonistas de quatro patas: “Falamos muito dos benefícios para os pacientes humanos, mas os cães também precisam de atenção constante. Acompanhamento veterinário, saúde preventiva e avaliação comportamental. Tudo isso é indispensável para que eles estejam protegidos física e emocionalmente.”
Como psicóloga especialista em prevenção e posvenção ao suicídio, vejo diariamente como a solidão e a desesperança podem silenciar alguém.
A presença de um cão, por si só, não substitui o tratamento psicológico, mas pode ser um primeiro passo poderoso. O vínculo que eles estabelecem ajuda a abrir caminhos para a escuta profissional. Muitas vezes, é esse afeto sem julgamentos que encoraja alguém a buscar ajuda.
Paulo costuma dizer que “todo cão faz bem, mas o que diferencia um simples ‘me faz bem’ de um ‘me ajuda’ é a forma como essa relação é conduzida”. Quando esse vínculo integra um processo terapêutico estruturado, os resultados são muito mais consistentes.
Ainda sobre o apoio do animal em casos de prevenção e posvenção, hoje, a equoterapia, tratamento que utiliza cavalos em sessões de reabilitação física e emocional, já está incluída no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar, responsável por regulamentar os planos de saúde no Brasil) e, em determinadas condições, os convênios médicos são obrigados a oferecer cobertura desse procedimento.
Para o adestrador Paulo Serrati, a cinoterapia com cães pode seguir o mesmo caminho, desde que haja maior investimento, profissionalização e regulamentação.
Falar sobre o papel dos animais nesse cenário é reconhecer que eles não substituem médicos, psicólogos ou educadores, mas podem ser aliados fundamentais no acolhimento e na construção de vínculos. E, quando ciência, ética e afeto caminham juntos, novas possibilidades de cuidado se abrem para que ninguém precise enfrentar a dor sozinho.
Nesse mês, o Setembro Amarelo nos lembra de que a prevenção exige múltiplas frentes e uma delas é o vínculo com um pet.