15/05/2025 - 7:08
Gatos têm fama de independentes, mas demandam cuidados específicos em cada fase da vida. Do estímulo à hidratação até a organização do ambiente em que vivem, pequenas ações diárias fazem a diferença para o bem-estar e a saúde dos felinos. Isadora Fappi Scherer, médica veterinária do Pet Care Balneário Camboriú (SC) certificada como “cat friendly veterinarian” pela Feline Veterinary Medical Association (entidade fundada nos EUA), apresenta seis recomendações importantes para tutores.
1. Incentive o gato a beber água
Já notou que ele bebe pouca água ao longo do dia? Isso não acontece por acaso. Essa característica está ligada à biologia evolutiva desses animais. Os ancestrais dos gatos domésticos viviam em regiões desérticas. Para sobreviver, eles extraiam a maior parte da hidratação das presas que caçavam. No entanto, o ambiente e os hábitos dos felinos mudaram. Com uma alimentação muitas vezes baseada em rações secas e menos estímulos naturais, a baixa ingestão hídrica pode trazer sérios riscos à saúde. Os principais estão relacionados à saúde do trato renal e urinário. Entre os problemas associados estão cistite e obstrução uretral. Além disso, a desidratação pode causar desconforto digestivo, prejudicar a absorção de nutrientes e afetar o comportamento do pet, tornando-o apático.
Dicas:
– Ofereça alimentos úmidos. Sachês e patês possuem cerca de 80% de água;
– Espalhe potes de água pela casa. Muitos gatos evitam beber água porque o recipiente não está em um local adequado;
– Escolha bem o recipiente. Tigelas de plástico podem reter odores e impurezas, tornando a água menos atrativa. Opte por potes de cerâmica, vidro ou inox, que são mais higiênicos;
– Invista em fontes de água corrente. Gatos são naturalmente atraídos por água em movimento. Elas ainda despertam a curiosidade do pet;
– Não deixe o pote próximo à ração ou à caixa de areia. Os felinos preferem beber água longe da área onde comem ou fazem suas necessidades.
2. Ofereça estímulos físicos e mentais
Cada bichano tem uma personalidade. Alguns são mais agitados e curiosos e outros preferem passar boa parte do dia descansando. Independentemente do temperamento, uma coisa é certa: brincar é essencial para o bem-estar do pet. A interação lúdica estimula o corpo e a mente e permite que o gato expresse comportamentos naturais da espécie. O truque está em fazer pequenas coisas que trarão significados engajadores. Ou seja, enriquecer nutricionalmente (com uma “caça” ao alimento), enriquecer o espaço verticalmente com nichos e arranhadores, enriquecer o sentido olfatório com jardins sensoriais, catnip, matatabi e feromônios. “Tudo isso vai auxiliar a instigar prazer, segurança e relaxamento ao seu pet”, diz a veterinária. O instinto de caça continua vivo e, se não for estimulado, pode levar ao tédio e a comportamentos indesejados.
Dicas:
– Esconda petiscos em embalagem de ovos. Recorte a tampa da embalagem de ovos e espalhe petiscos dentro dos espaços. O gato terá de trabalhar para tirar cada um;
– Utilize bolas dispensadoras de ração. Recorra a brinquedos interativos que liberam ração aos poucos.
3. Reserve momentos para brincar e interagir
Gatos precisam de estímulos físicos e mentais, mas isso não significa que eles devam brincar sozinhos o tempo todo. O momento de brincadeira com o tutor fortalece o vínculo e contribui para um desenvolvimento saudável. Para a American Association of Feline Practitioners, são pilares para o bem-estar dos felinos a oferta de recursos adequados aos pets, como os brinquedos, e a relação humano-felino previsível, entre outros. Isso significa que é fundamental reservar um tempo diário para brincar com seu gato. “A interação lúdica é um momento de conexão e relaxamento tanto para o tutor quanto para o gato”, explica Isadora.
Dicas:
– Alterne brinquedos e respeite a sequência natural do comportamento felino: instigar a atenção, incentivar a perseguição, permitir a captura e finalizar com o ataque;
– Varinhas, bolinhas e até pequenas caças simuladas ajudam a manter o instinto ativo. Já brincadeiras com laser podem ser frustrantes, já que o gato nunca consegue “capturar” a luz. Se optar pelo laser, redirecione o foco para um brinquedo palpável ou ofereça um reforço positivo ao final da brincadeira.
4. Mantenha o ambiente limpo, mas atenção: ele gosta de deixar seu cheiro na casa
Gatos são extremamente higiênicos. Manter o ambiente limpo é fundamental para o bem-estar do felino. Mas, na hora da faxina, é preciso cuidados para não transformá-la em um momento estressante para o pet. Barulhos de aspirador e de máquina de lavar podem amedrontar o bichano. Produtos com fragrâncias intensas podem causar coceira na pele, espirros, tosse e tirar o cheiro de seu gato na casa. Remover com frequência as marquinhas de onde o bichano se esfrega pode tirar a sensação de controle sobre o ambiente. A resposta para evitar esses riscos não é isolar completamente seu companheiro peludo em momentos de limpeza. Isso pode desencadear ansiedade, frustração, raiva e até problemas gastrointestinais. Então, o que fazer?
Dicas:
– Deixe seu gato escolher onde ficar. Antes de começar a faxina, permita que ele se refugie em um local tranquilo. Tenha, se possível, prateleiras ou nichos elevados, onde ele se sinta protegido;
– Escolha produtos de limpeza neutros;
– Respeite as marcas do seu gato no ambiente. Os cantinhos onde ele adora se esfregar estão repletos de feromônios que ajudam o pet a se sentir seguro. Evite limpar essas áreas com frequência excessiva;
– Se necessário, restrinja o espaço com cuidado. Em alguns casos, pode ser preciso limitar o acesso do gato a certos ambientes. Garanta que ele itens essenciais no entorno, como caixa de areia, comida e água.
5. Cuide da saúde oral do seu amigo
A saúde oral dos gatos ainda é um ponto negligenciado por muitos tutores. Problemas dentários podem causar muita dor e desconforto, e os felinos são mestres em esconder sinais. Muitas vezes, só demonstram que algo está errado quando a situação já está complicada. Infecções orais podem ter também consequências graves para o organismo. “Em casos mais avançados, bactérias constituintes do tártaro podem se deslocar pela corrente sanguínea a órgãos como fígado, rins e coração. Por isso, esteja atento ao bafinho do seu gato”, ensina a veterinária.
Dicas:
– A escovação regular é um dos principais cuidados. O ideal é acostumar o gato ao processo desde cedo, utilizando escovas e pastas específicas para pets, sempre com movimentos suaves;
– Uma alimentação equilibrada pode ajudar na limpeza dos dentes.
6. Priorize ambientes cat friendly
Até para levar o gato ao check-up – uma medida importante para prevenir problemas – vale priorizar lugares em que o ambiente seja um facilitador. “Uma sala de espera separada de outros animais ajuda a ir gradualmente reduzindo o temor do espaço desconhecido. O uso de feromônios facilita a promoção do sentimento de segurança. Ter áreas altas para a espera dá mais controle ao paciente, onde ele pode observar o ambiente e o interpretar menos ameaçador”, orienta Isadora. A ideia é que o consultório seja percebido pelo felino como um playground. Arranhadores, áreas altas, esconderijos e o uso de feromônio sintético são algumas práticas que impactam nesse sentido. “Devemos ter em mãos as ferramentas necessárias ao exame clínico, evitando o abre/ fecha de porta e, assim, a alteração de estado emocional do paciente”, diz Isadora, reforçando que cada detalhe faz a diferença.