Quem está habituado aos filmes de Tim Burton, pode esperar momentos sombrios e mesmo assustadores. Mas Maggie, quatro anos, comportou-se até que bem. Apenas em uma cena, já perto do final da história, uma mistura de terror e comédia, ela se manifestou com um latido. A plateia que via “Os fantasmas ainda se divertem – Beetlejuice Beetlejuice”, em uma sala de cinema do Shopping Frei Caneca, em São Paulo, não se aborreceu com a reação. Pelo contrário: algumas pessoas até riram.

Essa foi a primeira sessão de cinema de Maggie, uma vira-lata caramelo, e sua “irmã” Michone, também sem raça definida, cães do médico Dinart Miranda Júnior e de Fabian Lima, recepcionista de clínica veterinária. A duplinha ficou na sala até o filme terminar, tendo a companhia de outros cachorros e humanos.

Alguns tutores tiveram de dar uma voltinha com seus bichos e retornaram depois para suas poltronas. Somente um casal desistiu do filme: o cão estava inquieto demais. De um modo geral, porém, a experiência foi tranquila e reuniu cachorros como um golden retriever, um husky, um border collie, um spitz alemão e mais uma porção de vira-latas.

Cenas como essas acontecem todo terceiro sábado do mês no “CinePets”, programa criado pela rede Cinesystem há cinco anos. A experiência é oferecida a cada terceiro sábado do mês em 24 cinemas multiplex da empresa, disponíveis em 18 cidades: Ananindeua (PA), Arapiraca (AL), Brasília (DF), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Hortolândia (SP), Imperatriz (MA), Itaboraí (RJ), Londrina (PR), Maceió (AL), Paulista (PE), Praia Grande (SP), Rio de Janeiro (RJ), Rio Grande (RS), Santarém (PA), São Leopoldo (RS), São Paulo (SP) e Vila Velha (ES).

Samara Vilvert, gerente de marketing da Cinesystem, conta que a rede busca oferecer boas experiências dentro da sala de cinema. “Queremos que nossos clientes possam colecionar lembranças inesquecíveis em família”, afirmou. O CinePets nasceu com o objetivo de criar memórias na companhia dos pets.

De acordo com Samara, nesses cinco anos, a iniciativa atendeu mais de 4 mil clientes que levaram seus cachorros ao cinema – os bichos não pagam ingresso. Em sua avaliação, a experiência é um sucesso. E o programa pode ser ampliado. “A ideia é que o CinePets acompanhe o crescimento da própria Cinesystem, sempre sendo implementado em cada novo multiplex que abrirmos ou adquirirmos”, diz Samara.

As regras para quem quiser levar seu cachorro são: os bichos devem ficar no colo ou no chão (em geral, na frente da cadeira); não há restrição de porte de animal (exceto se o shopping limitar tamanhos), mas ele tem de ser socializado; os cães precisam estar com as vacinas em dia e usar coleira; ração, petiscos e água são permitidos (é importante ter um recipiente adequado para que o pet se hidrate).

Uma dica da empresa é que o tutor faça o cachorro passear antes da sessão. Assim, ele pode aproveitar o tempo para descansar enquanto os humanos assistem ao filme. Se for necessário, dá para sair para que o cãozinho se alivie fora da sala. Detalhe: por enquanto o programa só permite cachorros, mas está nos planos da rede abrir sessões para outros pets.

Além disso, a sala é adaptada para aumentar o conforto dos animais. Ela não fica tão escura como nas sessões comuns. E o volume é 30% reduzido. Depois que todos deixam a sala, é feita uma higienização completa para liberar o lugar para outras sessões.

Como foi?

Um amigo de Dinart e Fabian indicou o programa e eles decidiram experimentar. A experiência foi aprovada, apesar de pequenos contratempos. Na sessão, Maggie teve de trocar de colo algumas vezes. Michone ficou sossegada. Mas isso não irá impedi-los de retornar ao cinema. “Vamos repetir a dose. Isso só vai depender do filme. Como neste caso foi uma comédia, a opção foi boa”, comentou Dinart. Para ir com cachorros, ele acha melhor um longa que não demande tanta atenção à trama – porque é possível perder trechos da história para cuidar do pet.

Adriana Comtesse, Alberto Lian e Nina buscam lugares dog friendly, como a sessão CinePets.
Adriana Comtesse, Alberto Lian e Nina buscam lugares dog-friendly, como a sessão CinePets. (Crédito:Arquivo pessoal)

Já para Adriana Comtesse, advogada, e Alberto Lian, médico, o filme pesou um pouco na experiência da pequena Nina, resgatada há seis anos pelo casal. O longa de Tim Burton foi a segunda experiência da família no CinePets. Em agosto, Adriana e Lian tinham ido conferir “É assim que acaba”, um romance baseado no livro homônimo de Colleen Hoover. “Curtimos muito”, disse Adriana.

No CinePets de setembro, o título escolhido teve ruídos mais estridentes e cenas que provocaram sustos, inclusive entre os humanos. Lian percebeu uma diferença no comportamento de Nina e decidiu pedir à equipe do cinema que baixasse o volume para acalmar os cachorros. Como Nina, outros animais demonstravam um pouco de agito. Reduzido o som, a sessão seguiu em paz.