A biotecnologia tem aproximado a medicina veterinária de algo que sempre pertenceu ao campo do humano: a capacidade de restabelecer conexões. Quando um animal adoece, o impacto se espalha pelo ambiente. Muda o ritmo da casa, o humor de quem convive, a forma como o tempo é percebido. A doença de um pet não acontece isoladamente; ela atravessa relações, rotinas e afetos.

Foi com esse olhar que conheci o trabalho da biomédica Patrícia Malard, fundadora da Células Tronco Bio Cell, que há anos transforma conhecimento científico em terapias regenerativas aplicadas à prática clínica. “Quando comecei a estudar as terapias com células-tronco, vi animais recuperando qualidade de vida e famílias reencontrando esperança”, contou Patrícia.

A Bio Cell atua em áreas como ortopedia, oftalmologia, dermatologia e também em doenças renais e hematológicas. Os resultados têm mostrado o alcance real das terapias com células-tronco: menos dor, melhor mobilidade e recuperação funcional. Mas o que me interessa observar é o que esses avanços revelam sobre nós. Cada animal que melhora devolve ao tutor uma parte do cotidiano: o gesto, o olhar, o som que antes marcava presença. É uma reorganização concreta da convivência. E é nela que se reconhece o poder transformador do vínculo.

A abordagem da Bio Cell é individualizada e exige precisão técnica, mas também uma ética de cuidado que reconhece o contexto emocional de cada caso. “Inovação precisa caminhar junto com responsabilidade”, reforça Patrícia. A empresa também investe na formação de profissionais e na difusão segura do conhecimento, tornando a biotecnologia acessível e aplicada à realidade brasileira.

No campo da saúde mental, essas experiências trazem uma reflexão importante: a forma como lidamos com o adoecimento e a recuperação dos animais revela o quanto o vínculo é estruturante na nossa vida psíquica. Quando a ciência amplia o horizonte do que é possível, ela também amplia nossa capacidade de lidar com a incerteza, com a espera e com o tempo. São dimensões centrais do cuidado.

O futuro da medicina veterinária passa por essa integração entre técnica, ética e significado. Porque toda vez que a ciência prolonga a presença, ela também reafirma aquilo que sustenta o afeto: a continuidade.