22/01/2025 - 12:44
Intitulado “Um novo futuro para a criação de cães”, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Copenhague fez uma análise histórica da criação de cães de raça, alertando como a busca extrema por padrões de beleza e por características impostas por competições têm gerado problemas de saúde severos em várias raças. O trabalho, que contou com apoio de especialistas da Inglaterra, do Canadá e EUA, propõe mudanças na criação, com base na ciência e com foco na saúde e no bem-estar dos animais.
“A ideia moderna de cães de raça pura tem sido alvo de crescentes críticas nas últimas décadas. Primeiro por acadêmicos e, mais tarde, pelo público e pela mídia”, observam os autores. Eles ponderam que as seleções feitas pelo homem para criar grupos de cachorros de aparência semelhante com um pedigree definido (uma linhagem registrada conhecida) podem implicar em uma intensa carga de doenças hereditárias devido à consanguinidade.
Há também deficiências resultantes de seleção deliberada em busca de características de conformação extremas, que afetam negativamente o bem-estar e a longevidade de alguns cães.
Diversas raças populares sofrem com problemas herdados devido à seleção focada em algumas características. Os cachorros de focinho curto (braquicefálico), como o buldogue francês, o buldogue inglês e o pug geralmente têm dificuldades respiratórias e problemas dentários e oculares. De acordo com o estudo, o crânio curto e arredondado do cavalier king charles spaniel pode causar siringomielia, uma doença neurológica, devido à compressão do tecido cerebral. E o excesso de pele em relação ao esqueleto em várias raças aumenta o risco de dermatite de dobra cutânea.
E não apenas a saúde física pode ser comprometida em função dessa busca extrema para atingir certos padrões. Os especialistas dizem que a perpetuação dessas práticas pode afetar também o bem-estar mental dos animais.
O estudo examina ainda tendências no cenário de criação de cães, como a perda de popularidade de kennel clubs; a ascensão das chamadas raças híbridas (quando duas são escolhidas para gerar uma terceira), caso dos cockapoos e labradoodles, e a crescente popularidade dos cães mistos – ou vira-latas, como diríamos.
Segundo os autores, existe a crença de que esses cachorros poderiam ser mais saudáveis do que os de raça. Porém faltam pesquisas para confirmar se os híbridos são mais saudáveis. Quanto aos mestiços, é mais comum que os tutores não saibam as características hereditárias desses animais.
Para os pesquisadores, é fundamental estabelecer uma nova maneira de criar os cães de raça. Eles não defendem a proibição de canis ou criadouros, e sim a adoção de medidas que permitam uma criação que coloque a saúde do animal acima de tudo.
As propostas são as seguintes:
– Revisão dos padrões de raças para remover as que levem a características físicas extremas que são prejudiciais à saúde.
– Evitar fechar completamente kennel clubs e criadouros. Em vez disso, estabelecer registros formais de criação para melhorar a diversidade genética, garantir a rastreabilidade e reduzir a criação descontrolada.
– Introduzir legislação para aplicar reformas de bem-estar em toda a população canina, não apenas em cães de pedigree.
– Apoiar o uso de ferramentas genéticas modernas para selecionar genótipos e fenótipos que predisponham a doenças.