Um estudo encomendado pela Royal Canin em oito países, inclusive o Brasil, indica: 40% dos cães e gatos adultos estão com quilos a mais. Para identificar os principais obstáculos para controle do peso dos animais, foram ouvidos 14.016 tutores e 1.750 veterinários e especialistas em nutrição. Do total desses profissionais, 45% afirmam que os responsáveis pelos pets subestimam os riscos associados ao sobrepeso e à obesidade nos bichos de estimação.

No Brasil, esse índice é maior. A avaliação de praticamente 58% dos profissionais veterinários entrevistados (57,6%) é que muitos tutores minimizam os efeitos do excesso de peso para a saúde e o bem-estar de cães e gatos, o que dificulta a adesão a recomendações feitas pelos especialistas. Além disso, 94,8% relataram um aumento significativo nos casos de obesidade nos bichos nos últimos anos – 58% observaram que esse número cresceu mais desde a pandemia da Covid-19.

A pesquisa foi realizada pela Censuswide em março de 2025, mas o recorte brasileiro foi divulgado apenas recentemente. Por aqui, foram consultados dois mil tutores e 250 médicos veterinários.

O que mostram os dados globais

A análise das respostas dos oito países que fizeram parte do estudo (Brasil, China, Espanha, França, Índia, México, Portugal e Reino Unido) revelou uma ampla falta de conscientização e uma importante influência da desinformação entre os principais fatores que contribuem para o problema de obesidade que afeta pets em tantas regiões do mundo.

A disseminação de informações equivocadas é apontada por 17% dos tutores como um dos maiores obstáculos para manter os animais com um peso saudável. O percentual sobe para 55% quando a pergunta é feita para tutores da Geração Z.

Há outro dado que se destaca dentre os resultados do estudo internacional: 26% das pessoas entrevistadas não sabem qual é o peso ideal de seu pet.

Também chama atenção a revelação de que 19% tutores recorrem às redes sociais em busca de informações e orientações sobre nutrição, peso saudável ou obesidade em cães e gatos.

Já entre os profissionais consultados, 29% acreditam que a desinformação e a proliferação de conteúdos conflitantes no universo pet dificultam as conversas com os tutores sobre o tema.

Como os tutores brasileiros se relacionam com a alimentação do pet

No recorte do Brasil, o estudo aponta que 48,60% dos tutores já ofereceram comida humana a seus bichos, além da ração. Entre os alimentos mais fornecidos estão os cozidos (50,62%) e vegetais (40,95%). Também entra nessa conta a carne crua (35,60% das respostas).

Os especialistas ressaltam que o fornecimento de calorias adicionais – fora as provenientes da dieta cotidiana (na maioria das vezes, ração seca) – pode contribuir diretamente para o ganho de peso. Outro problema se refere à oferta de alimentos crus, como a carne, que apresentam riscos de contaminação microbiológica, se não forem bem manipulados e conservados.

Quando questionados sobre os motivos para oferecer comida humana a cães e gatos, 39,51% dos tutores disseram acreditar que a prática não causa danos à saúde; 36,52% responderam que o faziam para agradar. Os dados reforçam a importância da orientação nutricional adequada e de incluir o assunto de forma constante nas conversas com o veterinário.

Outro ponto de destaque é que 60,15% dos entrevistados utilizam alimentos, como petiscos, quando acham que o animal está triste, entediado ou solitário. Se por um lado, isso sugere cuidado e carinho, por outro, esse hábito pode desequilibrar a dieta e, a depender da constância, contribuir para o excesso de peso.

“Oferecer alimentos como forma de agrado e demonstração de carinho faz parte da construção do vínculo entre tutores e pets e negar essa prática é, na verdade, pouco realista. No entanto, para que isso não traga prejuízos à saúde, é fundamental que a escolha dos alimentos e o cálculo das quantidades sejam feitos com orientação profissional”, declarou Priscila Rizelo, gerente de comunicação e assuntos científicos da Royal Canin Brasil.

Predisposição genética e exercícios na percepção das pessoas

A pesquisa também investigou a percepção dos tutores sobre os problemas de saúde associados à obesidade em pets. Muitos reconhecem alguns dos principais males: 56,95% associam o excesso de peso a doenças cardíacas e pressão alta; 47,85% relacionam à ocorrência de diabetes tipo 2 (quando a enfermidade é adquirida); 42,30% apontam problemas respiratórios como consequência.

Vale ressaltar que males articulares, ortopédicos, pancreatite e doenças do fígado também podem acometer pets obesos.

Tutores brasileiros também têm noção de que, fora a alimentação, há outros fatores que influenciam no excesso de peso, como predisposição genética e pouca movimentação. Das pessoas entrevistadas, 41,95% apontam a falta de atividade física como a causa que mais contribui para a obesidade. E 50,90% acreditam que a dificuldade em manter os animais fisicamente ativos é um dos maiores desafios no controle do peso.

O estudo revelou ainda que 75,75% dos responsáveis pelos bichos dizem procurar orientação sobre obesidade em pets com veterinários e especialistas em nutrição.

Mais conversas no consultório

Um estudo realizado na cidade de São Paulo em 2018 apontou que 40,5% dos cães apresentam sobrepeso ou obesidade. É um número que mostra que há um grande desafio para ser enfrentado na região. Outros estudos, conhecidos do setor, indicam que poucos profissionais registram formalmente os termos “sobrepeso” ou “obeso” nos prontuários dos pacientes.

No entanto, entre os profissionais ouvidos na pesquisa, 74,80% contaram que abordam frequentemente temas relacionados à nutrição e ao controle de peso durante as consultas.