Apesar de existir um número crescente de pesquisas sobre cães e gatos abordando aspectos como habilidades cognitivas, comportamento e bem-estar, os tutores ainda convivem com muitas crenças a respeito de seus bichos de estimação. Um estudo liderado pela Escola de Psicologia e Saúde Pública da Universidade La Trobe, em Vitória (Austrália), mostra que certos mitos podem ser negativos para os cuidados dos animais.

Para compreender quanto algumas ideias antigas persistem, a pesquisa apresentou um questionário online para 224 tutores com uma série de frases sobre comportamento de cães e gatos. Eles tinham de concordar ou discordar do teor. Parte das declarações era falsa ou não tinha comprovação da ciência. Outras se aproximavam de resultados baseados em estudos sérios. Em geral, as respostas dos participantes concordavam com o conhecimento científico mais recente.

Dentre os mitos que constaram da pesquisa, os que se revelaram mais persistentes são os relacionados ao treinamento de dominância em cães e à suposta baixa manutenção dos gatos. Algumas crenças podem parecer inofensivas, mas existem as com potencial de prejudicar tanto o animal quanto o tutor.

Acreditar que os gatos podem cair de lugares altos sem se machucar, uma das afirmações apresentadas aos participantes do estudo, é uma impressão errônea que carrega um risco óbvio. Imaginar que o tutor que tratar bem seu cão nunca será mordido por ele é uma ideia que não é absolutamente verdadeira. Se ele estiver com dor, existe essa possibilidade.

Nas últimas décadas, diversos estudos investigaram comportamentos dos bichos, ajudando a derrubar ideias errôneas como a de que os gatos fazem xixi fora da caixa de areia como sinal de desrespeito. Mas eles precisam ser mais compartilhados. Os autores da pesquisa sobre crenças dos tutores esperam que os dados sejam usados por treinadores e especialistas em comportamento para ajudar a educar as pessoas sobre as reais necessidades dos pets e desmascarar impressões que não são comprovadas pela ciência.

Confira alguns resultados:

Declarações sobre gatos

• Afirmações precisas:

  1. “Os gatos esfregam-se em nossas pernas para demonstrar afeto”. A frase recebeu alta concordância.
  2. “Gatos ronronam porque estão felizes”. A afirmação é frequentemente verdadeira, mas depende do contexto. Ronronar também pode indicar dor ou necessidade de conforto

• Afirmações incorretas:

  1. “Gatos podem ver no escuro total”. Apesar do alto índice de concordância, a frase não se sustenta. Felinos têm excelente visão noturna, mas ainda precisam de um mínimo de luz para enxergar.
  2. “Gatos são animais de baixa manutenção”. A afirmação foi uma das que mais teve concordância, mesmo sendo incorreta. Ignorar as necessidades ambientais e comportamentais dos felinos pode comprometer seu bem-estar.

Declarações sobre cães

• Afirmações precisas ou contextuais:

  1. “Cães nunca devem morder seus donos”. No questionário dos cachorros, a frase teve o maior nível de concordância. Mas sua veracidade depende do contexto. Acidentes podem ocorrer, especialmente se o animal estiver com dor ou assustado.
  2. “Se um cachorro abana o rabo, significa que ele está feliz”. A declaração é parcialmente correta. O comportamento pode indicar excitação, medo ou outros estados emocionais.

• Afirmações incorretas:

  1. “Cães precisam saber quem está no comando”. A afirmação, que teve muita concordância, está associada à teoria de dominância, amplamente desacreditada pela ciência. O treinamento baseado em reforço positivo é mais eficaz e respeitoso com o animal.
  2. “Pequenos cães não precisam sair para passear”. A declaração é falsa, já que todos os cães necessitam de exercícios físicos e mentais.

Impactos de suposições que não encontram respaldo na ciência:

Algumas ideias equivocadas ou crenças podem levar a problemas de relacionamento entre tutores e pets.
• Culpar o animal por comportamento “desrespeitoso” – Tutores que acreditam que gatos urinam fora da caixa de areia por “desrespeito” ignoram fatores como localização insegura da caixa ou presença de estímulos estressantes.

• Adotar punição física – Algumas pessoas ainda acreditam que punir cães fisicamente ajuda no treinamento, mas isso pode aumentar a agressividade e prejudicar o bem-estar do animal.

A ciência derrubando mitos:

Estudos recentes têm mostrado:
• O “olhar de culpa” dos cães não é sinal de arrependimento, e sim uma resposta ao tom de voz ou expressões faciais humanas.

• Gatos precisam de um ambiente enriquecido, com arranhadores e locais para escalarem, e de estímulos mentais, o que contraria a ideia de que são animais autossuficientes.