29/03/2025 - 15:00
Um estudo publicado na revista Animals lança luz sobre a maneira como os cachorros utilizam o olhar para se comunicar com os humanos. Segundo os resultados desse trabalho feito por pesquisadores da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, o nível de contato visual pode revelar mais sobre a personalidade do cão e seu vínculo com os tutores.
Os cientistas analisaram o comportamento de 171 cães em resposta a um estímulo incerto: um carrinho de brinquedo controlado remotamente. Durante um minuto de exposição ao objeto, em uma mesma sala, os cientistas registraram quantas vezes cada cão olhava para seu tutor, que acompanhava o teste, e para o experimentador.
Ao final da experiência, os cachorros foram classificados em quatro grupos, de acordo com a frequência do contato visual – que, normalmente, consistia em rápidas olhadelas: pouco observadores (cães que lançaram a menor quantidade de olhares para os humanos), observadores focados no experimentador; observadores focados no tutor, e muito observadores (que alternavam constantemente o foco entre os humanos).
Participaram da pesquisa mestiços (43 cães) e as raças border collie (31), pastor alemão (23), golden retriever (19), labrador retriever (15), malinois (8), vizsla húngaro (4), groenendael (3), poodle standard (3), beagle (2), tervueren (2), cocker spaniel (2) e mais airedale terrier, bouvier des Flandres, buldogue, cavalier king charles spaniel, doberman, pointer alemão, setter irlandês, perro de presa canario, kelpie , maltês, mudi, rottweiler, pastor de shetland, husky siberiano e yorkshire terrier, sendo um de cada.
Essa foi uma parte da experiência. Os tutores também tiveram de responder um questionário sobre a relação emocional com seus pets e informar dados como a personalidade, a raça, a idade, o gênero e se o animal foi treinado.
“Os olhares dos cães não são apenas sinais de comunicação momentânea. Eles estão ligados a traços mais profundos, como vivacidade, agressividade e até à percepção do apoio emocional que oferecem aos humanos”, declarou Enikő Kubinyi, uma das autoras do estudo.
Os cães muito observadores (que olharam com maior frequência para os dois humanos) foram avaliados como os mais vivos e ativos. Já os poucos observadores apresentaram níveis mais altos de agressividade. Isso se alinha com um indicativo de que comportamentos mais agressivos estão ligados a um interesse social reduzido, o que, de fato, levaria esses cachorros a olharem menos.
Os animais focados no experimentador demonstraram índices menores de vivacidade do que os observadores frequentes. Além disso, esses cachorros mais atentos ao experimentador tendem a ser mais agressivos do que os muitos observadores. A razão? O aumento do olhar fixo para a pessoa desconhecida pode refletir maior medo ou vigilância.
Por fim, os cães que direcionaram mais olhares ao tutor foram associados aos pets que oferecem mais conforto emocional aos humanos, transmitindo sensação de segurança e afeto.
Uma curiosidade em relação à raça: pastores alemães tendem a olhar menos que golden retrievers. Do grupo de pastores alemães, 56,5% foram classificados como observadores baixos. No caso dos goldens, apenas 5,3% foram classificados dessa forma. Esses dados sugerem que há variações conforme as raças.
Para os pesquisadores, novos estudos devem ser feitos para aprofundar a compreensão de como as variáveis de personalidade influenciam o comportamento de olhar dos cães. Nesses trabalhos podem ser incorporados questionários para avaliar características como independência, disposição para brincar e impulsividade.
Além disso, informações mais específica sobre treinamentos podem ser exploradas. Cães de caça, por exemplo, são geralmente estimulados com exercícios voltados para o contato visual, o que presumivelmente afeta o comportamento de olhar em certos contextos.
Eles sugerem a adição de análises fisiológicas e avaliações comportamentais detalhadas para investigar como a curiosidade, o medo ou a neutralidade afetam o olhar. Essas investigações podem ajudar a descobrir os fatores que impulsionam as diferenças no engajamento social e nas estratégias de comunicação dos cachorros, como buscar conforto, permissão, aprovação ou orientação em situações desafiadoras.