Lembro de alguns aplicativos que chegaram ao mercado prometendo centralizar todos os banhos, tosas e consultas em um só lugar. A ideia parecia boa, mas a execução ignorou o que mantém um negócio pet de pé: relacionamento.

No pet, marketplace de serviços não funciona. Uma vez estabelecida a confiança entre o responsável pelo animal e um estabelecimento, dificilmente ele vai trocar por outro só porque está listado em um aplicativo. Dois anos depois, sem clientes fiéis e sem prestadores engajados, a maioria dessas plataformas encerrou as operações.

O erro está na lógica de “quanto mais opções, melhor”. No mercado pet, o responsável pelo animal não quer variedade, quer previsibilidade. Ele quer saber que o profissional conhece o histórico do seu cão ou gato, entende seu temperamento e respeita suas necessidades. Essa relação não nasce de um clique, mas de repetição, consistência e experiência positiva.

Além disso, muitos desses aplicativos subestimaram a importância da retenção. Para o prestador, pagar comissão para um intermediário só vale a pena se houver retorno em escala – o que não acontece quando o cliente volta direto ao estabelecimento na segunda vez para evitar taxas. Em pouco tempo, a base de parceiros encolhe, a oferta cai e a plataforma perde relevância.

Isso não significa que tecnologia não tenha espaço no pet. Pelo contrário. Ela é essencial para melhorar processos, dar transparência e ampliar a percepção de valor. Sistemas de gestão que armazenam histórico completo do animal, dispositivos IoT que monitoram saúde e comportamento, aplicativos que fortalecem a comunicação entre prestador e cliente – tudo isso potencializa o serviço sem tentar substituir a relação.

O futuro da tecnologia no setor pet não será dominado por quem tenta criar “o próximo grande marketplace”, mas por quem entende que confiança é o ativo central e desenvolve ferramentas para cultivá-la. O digital pode e deve estar presente, mas como aliado do serviço, e não como vitrine que afasta prestador e cliente.

No fim, o mercado pet não precisa de mais um aplicativo. Precisa de soluções que, de fato, melhorem a vida de quem cuida e de quem é cuidado.