12/01/2025 - 12:23
Pesquisadores do laboratório Tech4Animals, da Universidade de Haifa (Israel), recorreram à Inteligência Artificial (IA) para analisar como gatos domésticos utilizam expressões faciais para se comunicar e formar laços sociais. Publicado recentemente no Nature Scientific Reports, o estudo demonstrou que os felinos fazem mímica facial rápida de outros felinos principalmente em contextos amistosos, como em brincadeiras. Isso indica que eles são mais sociáveis do que costumamos imaginar.
Há um interesse crescente no estudo da comunicação facial dos gatos, explicaram os pesquisadores. A maioria das pesquisas, porém, se concentrou nesses sinais no contato com humanos ou em resposta a momentos de dor. O trabalho israelense focou na interação de gatos com outros gatos.
A pesquisa avaliou 53 gatos de uma instituição para adoção de Los Angeles, o CatCafe Lounge. Foram gravadas 186 interações entre os felinos, um conteúdo que chegou a 194 minutos. Elas foram categorizadas em dois contextos: amistoso e não-amistoso. A classificação se baseou em estudos prévios sobre reações. Por exemplo, são interações positivas contato corporal, caudas verticais e narizes cheirando um ao outro. E são negativas postura de defesa, bufadas e pelos eriçados.
O estudo aplicou abordagens computacionais, com IA. Os movimentos faciais foram analisados por meio da adaptação de um modelo aplicado em humanos, o Facial Action Coding System. Esse é um dos métodos mais usados para avaliar mudanças em movimentos faciais relacionados a emoções humanas ou imitação facial. No caso, os pesquisadores estabeleceram o Cat Facial Action Coding System.
Além disso, foi utilizado um detector automatizado de 48 marcadores faciais criados a partir da anatomia do rosto dos gatos. Eles ajudaram a identificar padrões de movimentos como rotações das orelhas e expressões da boca. Esse conjunto de marcadores é normalmente empregado para avaliação de casos de dor. No estudo do Tech4Animals, ele permitiu capturar nuances temporais das interações, destacando reações rápidas (menos de um segundo). A isso se chama “mímica facial rápida”. Ela é percebida em outros mamíferos e está associada a reconhecimento de emoções e contágio emocional.
Um gato virando as orelhas para cima, por exemplo, provocaria, em menos de um segundo, um movimento semelhante em um felino que estivesse diante dele, caso tivesse rolado uma boa sintonia entre eles. Já encontros negativos não provocariam esse comportamento de espelhamento. Ao contrário. A reação poderia ser a cabeça se movendo em atitude defensiva.
Atenção para as orelhas
É o que o estudo israelense conclui: as interações amistosas mostraram níveis mais altos de mimetismo facial rápido do que as não-amigáveis, o que reforça a ideia de que a função social da imitação é compartilhar emoções positivas. Os pesquisadores chamaram atenção para os movimentos das orelhas, altamente propensos à mímica. Ou seja, as orelhas de gatos são fundamentais para a comunicação durante interações sociais.
Sabe-se que a mímica facial rápida capacita mamíferos altamente sociáveis, como primatas, a gerenciar relacionamentos com indivíduos de seus grupos. Gatos normalmente são considerados animais solitários. Mas, como apontam os pesquisadores, eles têm um grau notável de flexibilidade social, o que é visto em felinos vivendo junto a pequenos grupos (como em abrigos) ou em colônias em ilhas.
Adoção conjunta de gatos
Uma aplicação prática das descobertas desse trabalho está em reconhecer a importância dos sinais faciais dos gatos. Entender se eles estão reagindo a outro felino de forma positiva aumenta a probabilidade de vínculo bem-sucedido entre eles. A rápida imitação facial de um gato ao interagir com outro pode significar um vínculo mais forte entre eles. E isso facilitaria a adoção conjunta de animais.