Já está claro que, no Brasil, os pets passaram a ocupar um lugar cada vez mais afetivo nas famílias. Mas, quando o assunto é contratar serviços, ainda existe uma diferença grande entre o nível de expectativa e o quanto se está disposto a investir. É comum vermos responsáveis pedindo atendimento individualizado, relatórios, câmeras ao vivo, recreadores especializados, atividades variadas, alimentação natural e até suporte veterinário – tudo isso esperando caber numa diária de R$ 50. A conta nem sempre fecha.
E não é por falta de vontade dos empresários. É pela estrutura que um bom serviço exige. Pessoas treinadas, ambientes seguros, protocolos bem definidos e uma rotina com enriquecimento de verdade custam dinheiro. No setor pet, como em qualquer outro, qualidade tem custo. E o problema se agrava quando há informalidade, ausência de profissionalização e baixa margem para erro, porque com animais, erro custa caro.
Vamos aos exemplos. Um banho e tosa que respeite o tempo e o conforto do animal, com profissionais capacitados, ambiente limpo e equipamento de qualidade, dificilmente custará menos de R$ 40. Uma diária de hotel com atividades, cuidado afetivo, câmeras, segurança e suporte profissional especializado fica, com frequência, acima de R$ 80. Isso, claro, considerando uma operação regularizada, que cumpre seus compromissos legais e entrega o serviço com seriedade.
O desafio está na percepção de valor. Quando alguém enxerga o pet como parte da família, é natural que espere o melhor. Mas, para que esse melhor aconteça, é preciso entender o investimento por trás. Não se trata apenas de estrutura física, mas da responsabilidade emocional, técnica e humana envolvida.
A conta não fecha porque a equação entre o afeto projetado no pet, a expectativa por um serviço personalizado e o preço que se está disposto a pagar ainda está desequilibrada.
Esse desequilíbrio impacta diretamente os negócios. Profissionais adoecem emocionalmente diante da cobrança exagerada e da desvalorização do trabalho. Empresas sérias perdem espaço para quem cobra menos e entrega qualquer coisa. E os animais, que deveriam ser o centro da equação, muitas vezes acabam sendo os mais prejudicados.
Mas qual é a solução?
A resposta está em duas frentes: educação e profissionalização.
Do lado do consumidor, precisamos de um novo olhar sobre o que significa contratar um serviço pet. É preciso entender que, assim como em escolas, clínicas ou hotéis infantis, a estrutura do cuidado envolve investimento. Não é um luxo, e sim uma escolha por segurança, afeto e responsabilidade. Valorizar esse trabalho é o primeiro passo para garantir que ele continue existindo com qualidade.
Do lado do mercado, é urgente que os negócios se posicionem com clareza e firmeza. Parar de competir por preço e começar a educar por valor. Explicar o porquê de cada processo, mostrar os bastidores da operação, investir em formação de equipe e, acima de tudo, ter coragem de dizer não para práticas que fragilizam a credibilidade do setor.
A equação só vai fechar quando responsabilidade, expectativa e preço forem tratados com a mesma seriedade. O pet pode até ser filho no coração, mas ele precisa ser tratado como prioridade também nas escolhas que fazemos como consumidores.