05/12/2025 - 11:35
Conviver com um cachorro na adolescência vai muito além do afeto. Um estudo japonês, publicado na revista científica iScience, mostrou que jovens que crescem na companhia de cães apresentam menos problemas emocionais e comportamentais. Esse efeito positivo está ligado a mudanças na microbiota, o conjunto de microrganismos que vivem no corpo humano. A relação pode surpreender à primeira vista, mas os pesquisadores liderados pelo cientista Eiji Miyauchi, do Institute for Molecular and Cellular Regulation, da Universidade de Gunma (Japão), demonstraram como isso faz sentido.
Foram acompanhados de perto 345 adolescentes que fazem parte do Tokyo Teen Cohort, um dos maiores estudos populacionais sobre desenvolvimento juvenil no Japão. Desses jovens, 96 conviviam com cães e 247 não tinham cachorro.
Com média de idade de 14 anos, esses garotos e garotas foram avaliados por meio de questionários psicológicos padronizados (CBCL – Child Behavior Checklist), com indicadores como comportamento social, ansiedade, agressividade, tendência a isolamento e problemas de atenção. O resultado: quem vivia com cães apresentou menor retraimento, menos comportamentos agressivos e menos indícios de delinquência em comparação aos que não conviviam com animais.
O papel da microbiota
Para entender o mecanismo por trás desses benefícios, os cientistas analisaram a microbiota da saliva dos participantes. Eles descobriram que jovens com cães tinham maior presença de determinadas bactérias, especialmente do gênero Streptococcus, comuns no organismo e que podem incluir espécies benéficas. No caso, as encontradas estão associadas a melhores indicadores de saúde mental.
Em um segundo experimento, essas bactérias foram transferidas para camundongos criados sem essa microbiota. Os animais que receberam microrganismos de adolescentes com cães apresentaram mais interação social, mais aproximação de outros indivíduos e respostas mais positivas em testes de convivência.
Isso indica que a convivência com o cachorro altera a microbiota desses jovens. As mudanças influenciam diretamente o funcionamento do eixo intestino-cérebro, responsável por modular emoções, estresse e comportamento social.
Vale explicar que o eixo intestino-cérebro é um conjunto de vias bioquímicas e neurais que conecta o sistema digestivo ao cérebro. Bactérias consideradas benéficas produzem metabólitos e outras substâncias capazes de agir sobre esse eixo.
Por que conviver com cachorro faz bem para a mente
Segundo os autores, os benefícios da convivência com cães acontecem por vários caminhos ao mesmo tempo:
• Redução do estresse e do cortisol, o hormônio ligado às respostas de tensão;
• Estímulo à produção de oxitocina, associada ao vínculo social, empatia e bem-estar;
• Maior diversidade microbiana, fortalecendo o sistema imunológico e a comunicação intestino-cérebro;
• Aumento da socialização, já que o contato com o animal incentiva interações dentro e fora de casa.
Para os pesquisadores, os resultados reforçam que a presença de um cachorro pode ser um fator de proteção emocional na adolescência, fase crítica para o desenvolvimento psicológico e social.
Os autores destacam, porém, que os dados vêm da região metropolitana de Tóquio e que novos trabalhos em outros países são necessários para confirmar se os mesmos efeitos acontecem em diferentes contextos sociais e culturais.
