02/01/2025 - 13:01
Imagine ter seu cão tão bem treinado que ele possa buscar coisas para você ou acender as luzes da casa? Para isso, é preciso prepará-lo desde pequeno. A partir de oito semanas de vida, o cachorro começa a formar memória. Esse é um dos achados do Puppy Kindergarten, um projeto de pesquisa iniciado em 2018 pelo Duke Canine Cognition Center, da Duke University, nos EUA.
O programa, que estuda o desenvolvimento cognitivo e emocional de filhotes de cachorro, vem se destacando não apenas por suas contribuições científicas, mas também por aparecer em produções de TV, como BBC e National Geographic. Em 2024, a “escola de filhotes” foi um dos temas do documentário da Netflix “Dentro da mente de um cachorro”.
Também no ano passado alguns dos aprendizados do projeto de pesquisa chegaram à mão de tutores por meio de um livro, “Puppy Kindergarten: The New Science Of Raising a Great Dog”, de Brian Hare e Vanessa Woods. Hare, antropólogo e especialista em ciência cognitiva, dirige o Duke Canine Cognition Center. Vanessa, sua mulher, é cientista no mesmo projeto.
O trabalho já envolveu mais de 100 filhotes e é uma espécie de programa preparatório para a formação de cães de serviço, que auxiliam pessoas com deficiência, idosos ou outros indivíduos que se beneficiam com o suporte do animal.
O Puppy Kindergarten funciona deste modo: a cada semestre, uma nova turma de cachorrinhos de oito a 20 semanas de idade chega ao espaço. Eles são enviados pela Canine Companions, uma ONG que treina cães de serviços. Durante 12 semanas, os “alunos” do programa participam de atividades semelhantes a jogos para que os especialistas analisem o comportamento e identifiquem características compatíveis com o perfil de cachorros de assistência. Entre os serviços que aguardam esses pets estão abrir portas, buscar objetos e emitir alertas sobre as condições de saúde do tutor.
Jogos e treinos permitem avaliar habilidades como memória, resolução de problemas e sociabilidade. Nem todos os pets são aprovados. Mas todos são tratados com muito amor pelos voluntários que fazem parte do projeto.
Os pesquisadores estudam ainda como diferentes métodos de criação e treinamento afetam o comportamento futuro dos cachorros. O objetivo é aumentar a taxa de sucesso nos treinamentos de cães de assistência.
Algumas das pesquisas do Puppy Kindergarten revelam que, por volta das oito semanas de vida, filhotes conseguem lembrar onde um petisco foi escondido. Antes disso, nem adianta dar bronca no pequeno caso ele apronte. O cachorrinho não irá lembrar do comando do tutor, como não morder. Entre 13 e 14 semanas, o filhote começa a demonstrar autocontrole, resistindo a impulsos imediatos, como correr atrás de outro bicho. Isso é essencial para que ele vire um cão de serviço.
Os dados obtidos a partir da “escola de filhotes” mostram a importância de o tutor oferecer ao cachorrinho um ambiente seguro e estimulante nos primeiros meses de vida para garantir o bem-estar emocional e cognitivo do seu companheiro peludo.
Apoiado durante cinco anos por uma bolsa do National Institutes of Health, que se encerrou em 2024, o programa aguarda novo financiamento para continuar seus estudos.
Confira oito dicas extraídas do programa e do livro “Puppy Kindergarten: The New Science Of Raising a Great Dog”.
1. O timing é crucial:
• Filhotes têm janelas de aprendizado específicas entre 8 e 20 semanas de idade, período essencial para desenvolver habilidades sociais, cognitivas e comportamentais.
• Introduzir treinamentos básicos, socialização com pessoas e outros cães, e exposições controladas a novos ambientes nessa fase pode prevenir problemas futuros.
2. Desenvolvimento de memória e autocontrole:
• Por volta da 8ª semana, os filhotes começam a formar memórias. Isso significa que conseguem lembrar comandos e locais.
• Entre 13 e 14 semanas, passam a desenvolver autocontrole, fundamental para evitar comportamentos indesejados, como pular ou morder.
• Dica – Ensine comandos simples como “senta” e “espera” desde cedo, reforçando positivamente com recompensas.
3. Compreensão de gestos humanos:
• Filhotes têm uma habilidade inata de entender gestos humanos, como apontar para um objeto ou local. Essa competência os diferencia de outros animais e facilita o treinamento.
• Dica – Use gestos claros e consistentes ao ensinar comandos, como apontar para o chão e dizer “deita”.
4. Foco na socialização:
• Expor o filhote a pessoas, sons e situações variadas ajuda a criar um cão equilibrado e confiante. No entanto, deve ser feito de forma gradual e positiva para evitar traumas.
• Dica – Planeje interações curtas e positivas com diferentes tipos de pessoas e ambientes, sempre respeitando os limites do filhote.
5. A importância do brincar
• Brincadeiras estruturadas, como jogos de esconde-esconde, estimulam o cérebro do filhote e fortalecem o vínculo com o tutor.
• Dica – Use brinquedos interativos e jogos que incentivem o aprendizado, como esconder petiscos em locais acessíveis.
6. Educação sem punições:
• O treinamento baseado em reforço positivo, em vez de punições, é mais eficaz para ensinar comportamentos desejados e criar um cão seguro e confiante.
• Dica – Recompense imediatamente os comportamentos corretos com petiscos, carinho ou brinquedos. Ignore ou redirecione comportamentos indesejados.
7. Estabelecer rotinas:
• Filhotes prosperam com consistência. Rotinas para alimentação, brincadeiras, treinos e descanso ajudam a estabelecer segurança e bom comportamento.
• Dica – Crie um cronograma diário que inclua tempo para treinos curtos e regulares.
8. Paciência é essencial
• O treinamento e a adaptação de um filhote requerem tempo. Avanços podem ser lentos, mas a consistência e a paciência garantem resultados duradouros.