05/12/2024 - 17:59
O Dia Internacional do Voluntariado, celebrado em 5 de dezembro, foi instituído pela ONU em 1985 como reconhecimento ao trabalho inestimável de milhões de pessoas ao redor do mundo que dedicam tempo, energia e habilidades diversas para causas humanitárias, sociais e ambientais. A data visa destacar o impacto do voluntariado, inspirar mais pessoas a se engajarem em ações altruístas e reforçar a importância de políticas públicas que valorizem e incentivem essa prática.
Entre as causas que demandam muito apoio de voluntários está a animal. Em um mundo onde os recursos para resgatar, proteger e reabilitar bichos frequentemente são escassos, o voluntariado se torna a espinha dorsal de ONGs, entidades e instituições que lutam pelos direitos dos animais. Os voluntários atuam em abrigos, fazem resgates e organizam campanhas de conscientização, ajudando a salvar vidas.
Uma entidade tem o fundamental apoio de voluntários é o Grad (Grupo de Resposta a Animais em Desastres), que existe desde 2011 e que neste ano atraiu muitos olhares devido ao valoroso trabalho feito para resgatar animais das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e maio. “O Grad atua nos piores desastres da história no nosso país – das fortes chuvas e deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro e do rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho (MG) até os consecutivos incêndios do Pantanal e enchentes no Rio Grande do Sul”, contou Flávia Trindade, diretora de comunicação do grupo.
O Grad é composto hoje por 88 membros de todas as partes do Brasil. O grupo é multidisciplinar e conta com médicos veterinários, biólogos, zootecnistas, bombeiros militares e civis, gestores, médicos, agentes de segurança pública, engenheiros ambientais, jornalistas, advogados. Suas atividades envolvem todos os biomas brasileiros, promovendo assistência a animais e famílias multiespécies em situação de vulnerabilidade. Ele promove também treinamentos e realiza ações de assistência em comunidades de povos originários.
A ideia do Grad surgiu quando a médica veterinária Carla Sassi, presidente e fundadora do grupo, esteve no desastre da região serrana do Rio de Janeiro em 2011. Naquele ano, uma tempestade causou uma das maiores tragédias do Brasil. Carla iniciou trabalhos de resgate e assistência aos animais vitimados, e notou a necessidade de criar um grupo especializado em desastres.
“O trabalho voluntário é de suma importância na nossa sociedade porque ele preenche lacunas que o poder público não consegue alcançar. Por outro lado, as pessoas que desenvolvem um trabalho voluntário constante são unânimes em afirmar o quanto isso faz bem para elas, o quanto isso engrandece a vida delas. Então, se o trabalho voluntário já é bom para quem está sendo beneficiado, com certeza ele é muito bom também para quem está praticando”, afirmou Carla.
Para Flávia, o trabalho voluntário é um alimento para a alma. “Ele agiganta a gente e potencializa ações positivas em todos os lugares. A gente consegue realmente chegar e alcançar resultados que o poder público não alcança muitas vezes. Conseguimos mobilizar muitas ações positivas. Eu me emociono porque acho que o trabalho que a gente faz é grandioso e só chegou no que é hoje pelos nossos voluntários”, reforçou.
O time operacional do Grad é todo composto por voluntários. Apenas o time administrativo, que faz a gestão do grupo, é remunerado. “O Grad se sustenta unicamente de doações e hoje também conta com parceiros, principalmente no segmento da saúde animal, que contribuem com ração, medicamentos e insumos, viabilizando nosso trabalho”, explicou Flávia.
Os desafios da emergência climática
Este ano foi especialmente desafiador para as entidades em defesa dos animais. No caso do Grad, a missão do Rio Grande do Sul foi a maior do grupo em toda sua história. “Iniciamos nosso trabalho no dia 1º de maio, antes de equipes de defesa civil que vieram de fora”, lembrou Flávia. A primeira chuva forte aconteceu no dia 27 de abril. “A gente chegou no olho do furacão e saímos no dia 30 de setembro. Foi um trabalho sem precedentes. Foi um divisor de águas para o Grad. Assinamos um termo de cooperação técnica com o estado. Essa parceria foi fundamental: conseguimos ter resultados maravilhosos em termos de impacto, desde castrações até adoções, com o apoio da força aérea e do exército brasileiros, que deslocaram animais para fora do estado”.
Segundo Flávia, a experiência ficou de aprendizado. A missão virou um modelo para o grupo. Afinal, a triste realidade é que os desastres estão cada vez mais frequentes. “Estamos sempre em alerta”.
O desafio maior da missão gaúcha foi o volume de animais. “Chegamos a quase 20 mil animais vitimados por essa tragédia, tanto domésticos quanto os de criação”. Foram mobilizados cerca de 50 membros em trabalho de campo, que se revezaram durante todos esses meses de atividade no Rio Grande do Sul, fora o pessoal da logística, que também se dedicou muito.
Já a missão do Pantanal foi o extremo oposto, ressaltou Flávia. “Ela foi muito dificultada pela secretaria do meio ambiente do estado. Eles não queriam assumir que havia essa seca histórica. Tentaram impedir nosso trabalho por várias vezes. Entramos com uma ação civil pública para fornecer água para os animais, que estavam realmente padecendo com a falta de água”, revelou.
A equipe do Grad fez semanas de monitoramento em estradas e nos locais onde normalmente a água se mantinha ao longo do ano, mesmo na seca. “Dessa vez, não tinha água em muitos pontos. A gente fez esse reconhecimento e iniciou um trabalho de fornecimento de água em cochos que colocamos na Transpantaneira e nesses pontos onde antes havia água”, relatou.
Novos voluntários
Quem quiser ser integrante voluntário do Grad, tem de fazer inscrição em um processo aberto uma vez por ano. Ele envolve treinamento remoto e posteriormente presencial no qual são abordados diversos temas dentro do universo dos desastres, sejam antrópicos (relacionados à ação humana) ou não. Os selecionados vivenciam situações que o Grad costuma enfrentar durante as missões. “Também oferecemos treinamentos como APH (atendimento pré-hospitalar), para salvamentos como utilização de nós e amarrações e direção 4×4”, esclareceu Flávia.
No primeiro semestre, o Grad divulga a convocação para novos membros. Ela acontece entre abril e maio. As pessoas interessadas podem se inscrever para as aulas online. São quatro ou cinco dias com integrantes do grupo e convidados. Depois, acontece o processo seletivo. São escolhidas dez pessoas. Há um treinamento anual em Minas Gerais. Dura uma semana e envolve simulações de desastres para capacitar pessoas a estar a campo. Por sinal, todos os membros do Grad passam por reciclagem. Para mais informações, acompanhe o perfil do grupo no Instagram ou confira o site.