13/06/2025 - 14:17
Quando se pensa na intensidade das mudanças climáticas que estamos vivendo, em geral as pessoas discutem o impacto sobre humanos. Mas os animais também sofrem as consequências de tantas alterações e são ainda mais vulneráveis por não conseguirem comunicar diretamente o que estão sentindo. O alerta é da veterinária comportamental Marcela Barbieri.
“Hoje, ainda há pouca conscientização sobre os riscos reais, como queimaduras nas patas, desidratação, hiper e hipotermia, agravamento de doenças respiratórias e estresse crônico”, explica. Segundo ela, muitos tutores só percebem o impacto quando o animal já está bem afetado.
Além de veterinária, Marcela é criadora de conteúdo, adestradora e zootecnista. Ela tem 629 mil seguidores no Instagram e 184 mil no TikTok. Marcela participa da campanha “Cuidado certo, em qualquer clima”, da Au.Migos Pets (Grupo Boticário), oferecendo dicas de como cuidar de gatos e cachorros em momentos como baixa umidade e chuvas fortes. Em entrevista para a IstoÉ Pet, Marcela fala mais do impacto das mudanças climáticas e da poluição sobre os pets e até orienta o que fazer se o pet se assusta muito com raios e trovões.

IstoÉ Pet – Como os eventos climáticos intensos estão afetando os animais de estimação? Quais são as principais ocorrências às quais o tutor deve prestar atenção?
Marcela Barbieri – O clima afeta diretamente a fisiologia e o comportamento dos animais. Temperaturas muito altas podem causar desidratação, hipertermia e até queimaduras nas patinhas. Por isso, é importante que o tutor meça a temperatura do asfalto antes de passear com o cachorro ou gato. Já o frio intenso pode levar a uma hipotermia, dor nas articulações – principalmente entre os pets que já têm osteopatia ou algum problema do tipo –, e piora em doenças respiratórias. O bem-estar animal depende desses ajustes e manejo na rotina conforme as condições climáticas.
IstoÉ Pet – Esse é um tema que deveria chamar atenção do tutor?
Marcela – Com certeza é um tema que deveria chamar muito mais atenção dos tutores, mas, infelizmente, ainda passa despercebido por muita gente. A maioria das pessoas associa eventos climáticos extremos apenas ao desconforto humano e esquece que os pets são ainda mais vulneráveis, especialmente por não conseguirem se comunicar diretamente sobre o que estão sentindo. Hoje, ainda há pouca conscientização sobre os riscos reais, como queimaduras nas patas, desidratação, hiper e hipotermia, agravamento de doenças respiratórias, estresse crônico etc. Muitos tutores só percebem o impacto quando o animal já está bem afetado. Por isso, vale a pena bater nessa tecla em conteúdos educativos, como os de Au.Migos Pets. É importante mostrar que preparar o ambiente, adaptar a rotina e observar o comportamento do pet nesses períodos é uma forma de cuidado essencial.
IstoÉ Pet – Como cuidar de cães e gatos em situações de calor intenso?
Marcela – É muito importante evitar passeios nos horários mais quentes do dia, preferindo fazer a atividade até 10h da manhã ou só depois das 16h. Também é recomendável ter uma oferta de água e sombra em abundância, e escolher por casinhas em que a telha impeça a passagem do calor, para que a temperatura fique mais amena dentro delas. Não manter o animal em um ambiente fechado, como no carro, e sempre que possível, usar tapetes refrescantes, brinquedos com gelo, papinhas geladas, etc. E dar uma atenção redobrada aos animais de focinho curto, porque eles têm uma anatomia chamada síndrome braquicefálica, que dificulta a respiração e a troca de calor com o ambiente. Eles não conseguem dissipar o calor de forma eficiente, o que os torna muito mais propensos a sofrer com o calor extremo, mesmo em situações que não seriam tão críticas para outras raças. Durante eventos climáticos como ondas de calor ou umidade elevada, esses animais correm risco real de hipertermia, falta de ar, desmaios e até morte súbita, se não forem protegidos adequadamente.
IstoÉ Pet – E em temporada de chuvas e no frio?
Marcela – Sempre manter o animal sequinho, aquecido e em ambientes protegidos de vento. Uma dica interessante é virar a casinha do animal para dentro, para que não entre muito vento e água. Deixar opções de cobertor e caminha, e escolher uma opção elevada, que não tenha contato com o solo. Se o cachorro gosta, colocar roupinhas para aquecê-lo, mas também é possível usar um aquecedor. Evitar passeios muito longos e na chuva, e, caso o animal se molhe, secar com toalhas e secadores – caso ele não tenha medo, claro.
IstoÉ Pet – Qual a dica de treinamento para o pet não se assustar tanto com raios e trovões?
Marcela – Uma das abordagens mais eficazes é o treinamento de dessensibilização e contracondicionamento, feito com bastante paciência e antecedência (de preferência antes da temporada de chuvas). A ideia é expor o pet gradualmente ao som de trovões em volume bem baixo — com áudios gravados, por exemplo — enquanto ele faz algo prazeroso, como comer petiscos ou brincar. Aos poucos, o som vai sendo aumentado, sempre associando com algo positivo (como um brinquedo recheado). Nos dias de tempestade, é importante criar um ambiente de refúgio que seja seguro e acolhedor. Prepare um cantinho onde o pet possa se esconder (como uma toca com cobertores ou caixa de transporte), reduza estímulos externos (feche janelas, ligue som ambiente) e nunca o force a sair do esconderijo. Eu gosto muito de usar um som de ruído branco para abafar o som externo e com isso promover mais relaxamento. Em casos mais intensos, pode ser necessária a ajuda de um veterinário comportamentalista para indicar um suporte medicamentoso temporário até que o treinamento esteja mais eficaz.
IstoÉ Pet – A poluição afeta de que forma os bichos de estimação? O que podemos fazer para minimizar efeitos?
Marcela – A exposição a poluentes pode causar ou agravar problemas respiratórios, como bronquites, tosses, rinite alérgica e até crises de asma principalmente nos gatinhos. Além disso, a poluição pode irritar os olhos, a pele e afetar a imunidade, tornando o animal mais suscetível a doenças. Para minimizar os efeitos, recomendo evitar passeios nos horários de pico de trânsito ou nas horas mais quentes, quando a concentração de poluentes costuma ser maior. Sempre dê preferência a áreas verdes, onde o ar tende a ser mais limpo. Em casa, mantenha o ambiente bem ventilado e livre de fumaças, sprays e produtos químicos fortes também ajuda bastante. Se possível, o uso de purificadores de ar pode ser um aliado, especialmente para pets com sensibilidade respiratória. E não se esqueça de limpar bem as patinhas após os passeios, já que a poluição também se deposita no chão e pode ser ingerida ou causar irritações. Esses cuidados simples fazem toda a diferença na saúde e no conforto dos animais.