30/10/2025 - 14:03
Um cachorro é o protagonista do filme de terror “Good Boy”, que estreia nesta quinta-feira, 30, nos cinemas brasileiros. Dirigido por Ben Leonberg, o longa surpreende por contar a história pelo ponto de vista do cão, interpretado por Indy, um cão da raça retriever da Nova Escócia – ou Nova Scotia Duck Tolling Retriever. O animal acompanha seu tutor, Todd, para uma casa isolada no interior. E ele percebe que algo sombrio está à espreita pelos cômodos. A produção já entrou em cartaz nos EUA, onde existe até campanha para que o Oscar admita cachorros na disputa da estatueta de Melhor Ator.
Com duração de 73 minutos, “Good Boy” é uma história contada com poucas falas. Afinal, o personagem central não se comunica na linguagem humana. Indy toca o público principalmente pela força de seu olhar. O espectador acompanha o esforço do cão em proteger Todd. A dedicação do animal conduz a narrativa, transformando o que poderia ser mais um filme de gritos e sustos em uma experiência que angustia por outro aspecto: Indy vai sofrer alguma dor? Ele morre?
Leonberg sabe que esse temor é real – a tal ponto de o filme ter ido parar em um site chamado doesthedogdie.com, criado nos Estados Unidos por gente que pode até ver um massacre de serra elétrica em humanos, mas que não suporta a ideia de um bicho ser machucado em qualquer obra de ficção.
Sem entregar spoilers, o diretor explica que Indy não passou por dor alguma, nem temores. Ele assegura que o cão sequer sabe que participou de um filme. Leonberg fala com propriedade: é o tutor de Indy, que cria desde que ele era um filhote – e que está no projeto do filme também desde pequeno, com cenas registradas pelo diretor e que foram parar no longa.
“Good Boy” foi desenvolvido em três anos. No início, o diretor, que também é roteirista, não imaginava que seria seu cão a interpretar o personagem que criou. Leonberg fez testes com alguns cachorros. No fim, foi Indy que se saiu melhor.
Esses três anos de desenvolvimento do projeto até lembram outra produção, mas que se estendeu por muito mais tempo: “Boyhood”, de Richard Linklater. Ele filmou parte do elenco ao longo de 12 anos. Em “Good Boy”, Leonberg foi aprendendo, no processo de filmagem, alguns truques que ajudaram na construção da história. Como revelou, embora Indy não soubesse que estava em um filme, ele entendia que a câmera significava algo. E sobre ele ficar assustado, o diretor garante que o cachorro não passou por nenhuma experiência do gênero. Em suas palavras, são as cenas e a filmografia que induzem o público a sentir medo e isso faz com que as pessoas projetem no cão todos seus temores.
Segundo Leonberg, dois filmes são especiais na inspiração do projeto: “O Iluminado” (1980), de Stanley Kubrick, e “Poltergeist” (1982), de Tobe Hooper e com Steven Spielberg como um dos roteiristas. No primeiro caso, quem chama sua atenção é o personagem Danny, um menino que foi interpretado pelo ator mirim Danny Lloyd, que tinha seis anos à época. Ele é a representação da inocência. Já em “Poltergeist”, uma das cenas traz um golden retriever, que capta que há algo estranho na casa, mas nada além disso é mostrado em relação ao cão.

Nos Estados Unidos, o filme já estreou e a recepção tem sido tão positiva que motivou um movimento curioso nesta temporada de premiações. Em outubro, começou a circular uma carta aberta “assinada” por Indy (cujo nome foi inspirado no personagem Indiana Jones), divulgada pela distribuidora IFC (especializada em filmes independentes), pedindo, em tom bem-humorado, que a Academia de Hollywood considere animais para concorrer nas categorias de ator do Oscar.
Leonberg, que coescreveu o roteiro com Alex Cannon e produziu o longa ao lado da esposa, Kari Fischer, celebra o sucesso. De fato, é impossível não se comover com a atuação de Indy. E, no escuro da sala de cinema, enquanto o público prende a respiração, talvez fique claro que “Good Boy” não é apenas um filme de terror: é também uma história sobre lealdade e sobre o laço invisível que une humanos e seus bichos de estimação.

