11/02/2025 - 16:37
A procura por destinos que acolham toda a família, inclusive os pets, vem crescendo. Apesar de existir muita demanda, a oferta de qualidade ainda é pouca, segundo Ana Luiza Russo, especialista de turismo pet friendly e empresária do setor.
Em alta, o termo pet friendly pode gerar confusão, em função de mal uso, e causar frustrações entre os tutores. Segundo Ana Luiza, nem todos os lugares que recebem bichos de estimação estão realmente preparados. “É essencial prestar atenção e tomar cuidado com os diferentes níveis de hospedagens pet friendly. Atualmente, identificamos três: as que aceitam pets, as que são pet friendly e as que são feitas para os pets”, explica.
Para Ana Luíza, que é CEO da Ayê Franchising e proprietária da Villa Ayê da cidade de Socorro (SP), o nível “aceita pet” é o mais perigoso para todos os envolvidos. Isso quer dizer que o estabelecimento permite os companheiros peludos, mas só para não perder clientes. Na visão da especialista, esses lugares não entendem de comportamento animal; estabelecem regras confusas ou excessivas (como só aceitar cães de pequeno porte ou só no colo); não têm preparo para receber famílias multiespécie (não oferecem comunicação, sinalização e segurança adequados); e não sabem lidar com as demandas dos tutores. Por tais razões, existem conflitos frequentes entre hóspedes com e sem pets.
O padrão pet friendly requer que as hospedagens busquem a profissionalização por meio de consultorias ou cursos específico. Os locais entendem o que quer o público pet e tem comunicação, segurança e higienização adequadas. As regras são claras, objetivas e amigáveis e existem equipes profissionais no atendimento.
Hotéis e pousadas “feitos para os pets e que aceitam humanos” são bem nichados. Os estabelecimentos são focados nas famílias multiespécies, mas o animal é o cliente principal. Humanos são acompanhantes. Tudo é pensado para o conforto, bem estar e segurança dos pets.
Confira entrevista com Ana Luiza.
IstoÉ Pet – Quando alguém se prepara para viajar com seu pet, quais são as perguntas fundamentais que ela deve fazer para os responsáveis pelo lugar?
Ana Luiza Russo – Quais são as regras pets do local? Aceitam todos os portes e raças? O pet fica no quarto com o tutor? O local é cercado? Tem área de soltura? Tem área pet? Posso fazer as refeições junto com o meu pet?
IstoÉ Pet – O conceito de pet friendly é muito fluido? Como ter certeza que o lugar, mesmo respondendo às perguntas, realmente é pet friendly?
Ana Luiza – Dependendo do que for respondido (para as perguntas apresentadas), já dá para saber se o lugar é pet friendly de verdade ou se é pet fake. Na verdade, o conceito pet friendly não é muito fluido. Só é mal utilizado por estabelecimentos irresponsáveis, que não querem perder venda. Eles não se importam com o bem-estar, a segurança e o conforto dos humanos e dos pets.
IstoÉ Pet – Feita a reserva, o que não pode faltar na mala do pet?
Ana Luiza – A ração ou alimentação natural que já consome, o comedouro ao qual já está acostumado; a caminha ou mantinha preferida; alguns brinquedinhos; protetor solar e repelente; a carteirinha de vacinação (com vermífugos e carrapaticidas em dia); e coleira e guia (a do carro também).
IstoÉ Pet – Quanto a gatos, os lugares pet friendly estão preparados para receber felinos? Ou isso é algo raro?
Ana Luiza – A grande maioria dos estabelecimentos ditos pet friendly, na verdade, é dog friendly. Ou seja, são somente para cachorros. Locais que recebem gatos são mais raros. Por isso, é importante perguntar se o lugar aceita gatos e se está realmente preparado para recebê-los. No mínimo, precisa ter o quarto todo telado, incluindo as janelas de quarto, cozinha e banheiro.
IstoÉ Pet – Existe um período do ano – ou períodos – em que é melhor não viajar com seu pet para evitar multidões? Exemplo: final do ano ou Carnaval.
Ana Luiza – Qualquer época do ano é época de viajar com o pet. O segredo está em escolher bem o lugar para o qual vai viajar com ele. Evitar multidões é sempre recomendado. Procure um destino mais calmo ou hotéis e pousadas menores (e que tenham uma lei de fogos de artifício sem estampido), principalmente durante as épocas de festas com fogos de artifício.
IstoÉ Pet – Nos lugares em que o pet é o centro da hospedagem, o humano também tem de ficar confortável, certo? Como, em geral, são as acomodações nesses espaços?
Ana Luiza – Hospedagens onde o pet é o hóspede principal e o humano é seu mero acompanhante são bem raras. Mas nas poucas que existem – como é o caso da Villa Ayê Pousada Boutique Petfriendly – tudo o que há para o pet, existe também uma versão para os humanos. Por exemplo: há uma piscina exclusiva para os pets (tratada com ozônio para não dar alergias e em formato de rampa, para facilitar a entrada e a saída da água por pets de todos os portes e inclusive os que tem mobilidade reduzida) e também há uma piscina para os humanos. Existe uma área zen para os animais que os humanos também podem desfrutar. É oferecido serviço de massagem relaxante para os pets e também há opções de massagens para os humanos. O café da manhã do pet é servido na varanda do chalé e o dos humanos também, além de ser bem farto e cheio de delícias. No quarto, a cama queen size é prioridade do animal. Se ele liberar o humano para dormir com ele, a pousada não se opõe. Além disso, os pets de comportamento sociável e amigável com outros animais e com humanos podem ficar soltos, em qualquer parte das áreas sociais da pousada. Mas sempre sob a supervisão dos tutores. Ou seja, o pet recebe tratamento vip e seu humano também é muito bem tratado, afinal de contas é ele quem paga a conta.
IstoÉ Pet – Como está o setor? Movimentado? É um requinte para poucos?
Ana Luiza – O turismo pet friendly está em pleno crescimento. Existe muita demanda e pouca oferta de qualidade. A boa notícia é que já há empresas especializadas em viagens com pets, atividades de aventura e ecoturismo pet friendly, gastronomia pet friendly e hospedagem especializada na família multiespécie. É preciso pesquisar para achar os estabelecimentos sérios e que, de fato, ofereçam bem-estar, segurança e conforto tanto para os animais quanto para os humanos. Não é um requinte para poucos e, sim, uma necessidade oriunda da mudança de comportamento da sociedade ao longo dos últimos anos, que incluiu o pet como membro da família e quer que ele participe das atividades do dia a dia e também das viagens de férias.
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