A procura por destinos que acolham toda a família, inclusive os pets, vem crescendo. Apesar de existir muita demanda, a oferta de qualidade ainda é pouca, segundo Ana Luiza Russo, especialista de turismo pet friendly e empresária do setor.

Em alta, o termo pet friendly pode gerar confusão, em função de mal uso, e causar frustrações entre os tutores. Segundo Ana Luiza, nem todos os lugares que recebem bichos de estimação estão realmente preparados. “É essencial prestar atenção e tomar cuidado com os diferentes níveis de hospedagens pet friendly. Atualmente, identificamos três: as que aceitam pets, as que são pet friendly e as que são feitas para os pets”, explica.

Para Ana Luíza, que é CEO da Ayê Franchising e proprietária da Villa Ayê da cidade de Socorro (SP), o nível “aceita pet” é o mais perigoso para todos os envolvidos. Isso quer dizer que o estabelecimento permite os companheiros peludos, mas só para não perder clientes. Na visão da especialista, esses lugares não entendem de comportamento animal; estabelecem regras confusas ou excessivas (como só aceitar cães de pequeno porte ou só no colo); não têm preparo para receber famílias multiespécie (não oferecem comunicação, sinalização e segurança adequados); e não sabem lidar com as demandas dos tutores. Por tais razões, existem conflitos frequentes entre hóspedes com e sem pets.

O padrão pet friendly requer que as hospedagens busquem a profissionalização por meio de consultorias ou cursos específico. Os locais entendem o que quer o público pet e tem comunicação, segurança e higienização adequadas. As regras são claras, objetivas e amigáveis e existem equipes profissionais no atendimento.

Hotéis e pousadas “feitos para os pets e que aceitam humanos” são bem nichados. Os estabelecimentos são focados nas famílias multiespécies, mas o animal é o cliente principal. Humanos são acompanhantes. Tudo é pensado para o conforto, bem estar e segurança dos pets.

Confira entrevista com Ana Luiza.

IstoÉ PetQuando alguém se prepara para viajar com seu pet, quais são as perguntas fundamentais que ela deve fazer para os responsáveis pelo lugar?

Ana Luiza Russo – Quais são as regras pets do local? Aceitam todos os portes e raças? O pet fica no quarto com o tutor? O local é cercado? Tem área de soltura? Tem área pet? Posso fazer as refeições junto com o meu pet?

IstoÉ PetO conceito de pet friendly é muito fluido? Como ter certeza que o lugar, mesmo respondendo às perguntas, realmente é pet friendly?

Ana Luiza – Dependendo do que for respondido (para as perguntas apresentadas), já dá para saber se o lugar é pet friendly de verdade ou se é pet fake. Na verdade, o conceito pet friendly não é muito fluido. Só é mal utilizado por estabelecimentos irresponsáveis, que não querem perder venda. Eles não se importam com o bem-estar, a segurança e o conforto dos humanos e dos pets.

IstoÉ PetFeita a reserva, o que não pode faltar na mala do pet?

Ana Luiza – A ração ou alimentação natural que já consome, o comedouro ao qual já está acostumado; a caminha ou mantinha preferida; alguns brinquedinhos; protetor solar e repelente; a carteirinha de vacinação (com vermífugos e carrapaticidas em dia); e coleira e guia (a do carro também).

IstoÉ PetQuanto a gatos, os lugares pet friendly estão preparados para receber felinos? Ou isso é algo raro?

Ana Luiza – A grande maioria dos estabelecimentos ditos pet friendly, na verdade, é dog friendly. Ou seja, são somente para cachorros. Locais que recebem gatos são mais raros. Por isso, é importante perguntar se o lugar aceita gatos e se está realmente preparado para recebê-los. No mínimo, precisa ter o quarto todo telado, incluindo as janelas de quarto, cozinha e banheiro.

IstoÉ PetExiste um período do ano – ou períodos – em que é melhor não viajar com seu pet para evitar multidões? Exemplo: final do ano ou Carnaval.

Ana Luiza – Qualquer época do ano é época de viajar com o pet. O segredo está em escolher bem o lugar para o qual vai viajar com ele. Evitar multidões é sempre recomendado. Procure um destino mais calmo ou hotéis e pousadas menores (e que tenham uma lei de fogos de artifício sem estampido), principalmente durante as épocas de festas com fogos de artifício.

IstoÉ PetNos lugares em que o pet é o centro da hospedagem, o humano também tem de ficar confortável, certo? Como, em geral, são as acomodações nesses espaços?

Ana Luiza – Hospedagens onde o pet é o hóspede principal e o humano é seu mero acompanhante são bem raras. Mas nas poucas que existem – como é o caso da Villa Ayê Pousada Boutique Petfriendly – tudo o que há para o pet, existe também uma versão para os humanos. Por exemplo: há uma piscina exclusiva para os pets (tratada com ozônio para não dar alergias e em formato de rampa, para facilitar a entrada e a saída da água por pets de todos os portes e inclusive os que tem mobilidade reduzida) e também há uma piscina para os humanos. Existe uma área zen para os animais que os humanos também podem desfrutar. É oferecido serviço de massagem relaxante para os pets e também há opções de massagens para os humanos. O café da manhã do pet é servido na varanda do chalé e o dos humanos também, além de ser bem farto e cheio de delícias. No quarto, a cama queen size é prioridade do animal. Se ele liberar o humano para dormir com ele, a pousada não se opõe. Além disso, os pets de comportamento sociável e amigável com outros animais e com humanos podem ficar soltos, em qualquer parte das áreas sociais da pousada. Mas sempre sob a supervisão dos tutores. Ou seja, o pet recebe tratamento vip e seu humano também é muito bem tratado, afinal de contas é ele quem paga a conta.

IstoÉ PetComo está o setor? Movimentado? É um requinte para poucos?

Ana Luiza – O turismo pet friendly está em pleno crescimento. Existe muita demanda e pouca oferta de qualidade. A boa notícia é que já há empresas especializadas em viagens com pets, atividades de aventura e ecoturismo pet friendly, gastronomia pet friendly e hospedagem especializada na família multiespécie. É preciso pesquisar para achar os estabelecimentos sérios e que, de fato, ofereçam bem-estar, segurança e conforto tanto para os animais quanto para os humanos. Não é um requinte para poucos e, sim, uma necessidade oriunda da mudança de comportamento da sociedade ao longo dos últimos anos, que incluiu o pet como membro da família e quer que ele participe das atividades do dia a dia e também das viagens de férias.

Ana Luiza Russo é especialista em turismo pet friendly, além de ser proprietária da Villa Ayê, em Socorro (interior paulista), e CEO da Ayê Franchising.
Ana Luiza Russo é especialista em turismo pet friendly, além de ser proprietária da Villa Ayê, em Socorro (interior paulista), e CEO da Ayê Franchising. (Crédito:Divulgação)