29/11/2024 - 16:41
Entre as alternativas de alimentos para cachorros, a mais comum é a ração seca. Pela praticidade, disponibilidade no mercado e variedade de marcas, esse tipo de produto acaba sendo a principal escolha dos tutores. Mas até para definir qual delas colocar no comedouro é preciso ter informações à mão. Quem dá dicas para escolher a ração para o seu companheiro de quatro patas é a médica veterinária Claudia Kronfly, dona da clínica Pet Patas Jardins, em São Paulo.
– Como surgiu a ração seca? – Ela foi criada com o propósito de simular todos os nutrientes que são adquiridos por um carnívoro na natureza. No ambiente natural, a refeição nobre de um carnívoro são as vísceras de um herbívoro. Elas foram estudadas para que fossem identificados os componentes do alimento. Quanto tem de proteína, carboidrato e minerais? Lembrando que herbívoros comem alimentos verdes e isso faz com que eles também entrem na composição da refeição do carnívoro. Esse conjunto todo foi analisado e foi levado para uma ração desidratada. Desse modo, ela poderia ser embalada e vendida no mercado.
– O que o tutor deve levar em conta ao escolher o produto? – O que é significativo na hora de escolher a alimentação do cachorro é se ele é filhote, adulto ou idoso. Normalmente, rações de filhote têm um nível de proteína mais alto do que as de adulto. Outros componentes como cálcio também estão presentes em quantidades maiores. Existem variações que podem melhorar a qualidade de vida ou desenvolvimento dos bichos, de acordo com suas necessidades. Não interfere na decisão se o animal tem raça ou não.
– Ração para o cão adulto – Deve ser um alimento de alto padrão. As rações do tipo super premium são mais bem balanceadas. Na hora de escolher, é preciso considerar se o cão tem alguma atividade física, se está com sobrepeso ou se está muito magro. Há hoje no mercado rações direcionadas para diferentes situações. Existem produtos de baixa caloria, os indicados para pacientes com alteração renal, hepática ou para cardiopatas. Para o cão adulto saudável, existe a ração padrão. E existem as feitas para cachorros com necessidades especiais.
– Ração para o cão idoso – Há rações comerciais menos calóricas e que têm adições de suplementos que podem ajudar na qualidade de vida desse animal.
– Troca de marca ou tipo de ração – O ideal é que o cão acostumado a um determinado tipo de alimento se mantenha com ele. Toda vez que é feita uma troca de ração ou de comida, isso vai alterar a flora intestinal do animal. Pode gerar diarreia, gases, dor de barriga, cólica. Então, se não houver necessidade de troca, é preferível que se mantenha a mesma dieta, desde que seja super premium. Se for o caso de trocar o produto, é necessário fazer uma transição, misturando os dois grupos de alimento por uns dias para que seja feita uma adaptação da flora intestinal. Recomendo de sete a dez dias de mistura dos alimentos para essa adaptação. Normalmente, associo um probiótico nesse período para que não haja disbiose intestinal (desequilíbrio na microbiota intestinal), cólicas, gases e diarreia.
– Vale acrescentar suplementos? – A gente toma muito cuidado com os suplementos disponíveis no mercado. Toda ração super premium adquirida em locais de confiança – que vendam produtos veterinários – já está bem balanceada. Tudo o que o tutor acrescentar de suplemento, com exceção do ômega 3, pode ser um excesso de minerais. Isso, em vez trazer benefícios, irá gerar malefícios. Toda suplementação deve ser orientada por um veterinário. Nós, veterinários, discordamos da suplementação caseira. Não é porque a pessoa viu uma propaganda que deve comprar o produto. Muitos rótulos não são confiáveis. Podem até descrever o que há no produto, mas a indicação de quantidade do suplemento depende do que o animal já recebe na alimentação. Suplementos não servem para qualquer um. Se o cão já recebe todo aquele mineral na ração super premium, o excesso pode acumular nas articulações, nos tecidos ou nas vísceras. A única suplementação que não costuma existir em ração comercial é o ômega 3, por ser um item mais caro. Esse suplemento também precisa ser indicado por veterinário. A indicação é para todos os animais, independentemente da idade, do tamanho, do porte. Todos os cachorros podem e devem ser suplementados com ômega 3 de qualidade.
– E adicionar frutas e legumes na ração? – Acrescentar alimentos na dieta balanceada só tem indicação se for orientada por veterinário ou nutrólogo. Alguns itens podem desbalancear a dieta. Por exemplo, excesso de carboidrato desequilibra o nível de proteína da comida. Algumas frutas têm muito açúcar e isso causa fermentação intestinal e cólica. Adicionar proteína pode desbalancear a quantidade desse nutriente na dieta. Então, mesmo quando for acrescentar alimentos, como cenoura e banana, tem de ser sob orientação de veterinário. As frutas e os legumes que têm pouco carboidrato podem ser usados em pequenas quantidades. Eles podem ser dados como prêmio. Não são todas as frutas que podem ser usadas. Algumas são tóxicas, como a uva, que causa nefrotoxicidade (efeito sobre a função renal). Outras causam fermentação no intestino por excesso de açúcar, caso do caqui e da manga. O abacate pode provocar diarreia por excesso de gordura. Em relação a legumes, evitamos raízes, que têm muito carboidrato.
– O que evitar? – Há uma gama grande de alimentos que causam toxicidade. É o caso da uva. O chocolate causa intoxicação neurológica. Por isso, antes de dar qualquer tipo de alimento, fale com o médico veterinário. Ou faça uma pesquisa na internet, com fontes confiáveis, para verificar o grau de toxicidade daquele item. Como nem sempre as informações de internet são verdadeiras, o melhor é mesmo consultar o veterinário. O cão tem uma natureza de digestão dos alimentos muito diferente da dos humanos. Eles não digerem todos os alimentos que nós consumimos. Mas nós não metabolizamos fibras (elas não são absorvidas pelo organismo porque não temos enzimas para quebrá-las). O cão também não.