Neste domingo, 16 de março, se celebra o Dia do Dermatologista Veterinário, especialista que vem sendo mais solicitado pelos tutores, principalmente por quem tem um pet que vive se coçando. A dermatologia veterinária cuida da saúde da pele dos nossos bichos. Porém, uma das queixas que mais leva o animal para o consultório é a coceira, sintoma que está relacionado a vários problemas. Por isso, é importante buscar um médico veterinário e um especialista no tema para descobrir o que, de fato, está acontecendo com o cachorro e o gato.

O assunto atrai a atenção de tanta gente que a médica veterinária gaúcha Gabriela Tizian tem se destacado no Instagram abordando o coça-coça de cães. Ela é seguida por 109 mil pessoas. Desde 2018, Gabriela trabalha exclusivamente com cachorros com dermatite atópica. Moradora de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, Três Coroas, a veterinária escolheu a mídia social para ampliar as informações sobre a doença, uma predisposição genética desencadeada por alérgenos que podem ser ácaro de poeira, grama, alimentos.

Formada em 2010, Gabriela lembra que, na faculdade, a aula de alergia e dermatite atópica canina durou “dez minutos”. Na época, não se falava tanto do assunto, mas ele não saiu de sua cabeça desde então. Fez cursos e participou de diversos congressos com foco nessa condição hereditária. Hoje, a doença é mais falada.

“Em uma clínica de animais de pequeno porte, 80% dos atendimentos são relacionados a problema de pele. E 30% dos cães têm dermatite atópica. Acreditamos que esse índice esteja até defasado”, calcula.

Antes, vale esclarecer que coceira, por ser um sintoma, tem de ser bem investigada para que o tutor saiba se o que faz seu pet sofrer é sarna, fungo, dermatite atópica ou dermatite de contato. Há uma alergia que ocorre também por picada de pulga – entre os veterinários, ela é chamada de “Dapp”.

Compreender o que leva o pet a se coçar tanto ajuda a encontrar o tratamento adequado. Aliás, é importante saber se a coceira se intensificou e a partir de que momento. Como Gabriela observa, todo cão pode se coçar de vez em quando. Mas é preciso ligar o alerta se o animal aumentou a intensidade disso e ainda começou a se lamber. “Coceira intensa não é normal. Cabe ao tutor perceber isso. Se ele notou, leve o pet para uma consulta para entender a razão disso”.

Se depois do exame, o diagnóstico for dermatite atópica canina, o tutor deve se preparar para cuidar do seu pet por toda a vida. O problema é crônico e hereditário. Portanto, se um cachorro tem a doença, é preciso evitar que ele tenha filhotes, já que estes carregariam a condição genética. As raças que mais costumam ter essa predisposição são shih tzu, golden, labrador, york, pitbull e lhasa.

A dermatite atópica, porém, é controlável. Desde que sejam adotadas medidas para evitar uma crise alérgica. Uma alteração genética torna a barreira cutânea dos cachorros defeituosa. Por isso, alérgenos podem afetar o animal, que tem o sistema imunológico reativo. “Quando o alérgeno atravessa essa barreira defeituosa e chega ao sistema imunológico, ele causa coceira, lambedura e otite”, explica Gabriela.

Em geral, quando a veterinária recebe um cachorro com dermatite atópica, o tutor já tentou de tudo, sem sucesso. “Ele já passou por diversos profissionais. Já usou os medicamentos e os xampus mais caros. Ele literalmente está esgotado quando chega a um dermatologista”.

A verdade é que, apesar de ser uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, muitos tutores desconhecem dermatologistas veterinários. “Eles não estão cientes que podem procurar outro profissional”, comenta Gabriela, que afirma que normalmente leva-se tempo para o pet ser encaminhado para o especialista.

Outro obstáculo para o tutor é o custo maior da consulta com um dermatologista veterinário. Fatores financeiros costumam atrasar o atendimento de pets.

Desde 2018, Gabriela Tizian trabalha exclusivamente com cachorros com dermatite atópica, (Crédito:Acervo pessoal)

Método próprio

Gabriela desenvolveu um método para ajudar os tutores de cães com a doença. Batizado de Construcão, o programa 100% online e tem o objetivo de fazer o tutor “viver de boa com a coceira do seu cachorro e evitar ao máximo o uso de medicamentos”. A veterinária esclarece que o programa não envolve receitas naturais. Ele é baseado em comprovação científica. “Tudo que aprendo em congressos e cursos, transformo em uma linguagem fácil para o tutor”, conta.

De acordo com a veterinária, no caso da dermatite atópica, o maior erro do tutor é não entender que se trata de uma doença crônica. O que isso quer dizer? “Quando a gente retira o animal da crise alérgica e ele para de se coçar, o tutor normalmente para com tudo. Não pode. Nesse momento, a gente precisa entrar na fase de manutenção. Dentro do meu método, eu a chamo de fase do construtor”.

Para evitar novas crises, é essencial manter a pele estabilizada – e isso é definido em função do cachorro. Isso quer dizer que o cão nunca mais vai ter crise e nunca mais irá tomar corticoide? “Quer dizer que a gente vai espaçar as crises alérgicas. Vai utilizar menos medicamentos orais”, responde Gabriela.

Sobre a coceira, a veterinária menciona dois assuntos que devem estar no radar dos tutores. Um deles é o mito de que produtos de limpeza causam alergia. “Para algo causar alergia, o alérgeno precisa passar pela barreira cutânea do animal e chegar ao sistema imunológico e ativá-lo. Um produto de limpeza não causa alergia. Não atravessa a barreira cutânea. Mas, às vezes, causa irritação de contato. Não é alergia”, declarou.

O outro ponto é que não se deve acreditar na ilusão de suplementos ou tônicos que vão combater problemas de pele. “Esses produtos que a gente vê na internet como suplemento mágico vendem uma falsa ilusão para o tutor desesperado”. Gabriela ressalta que não existe pó milagroso que faça efeito porque é preciso abordar a pele, o sistema imune, o micro bioma do cachorro, ajustar o intestino, já que a dermatite atópica é multifatorial.