Um estudo conduzido pela Universidade de Jyväskylä, na Finlândia, revelou um dado fascinante sobre a relação entre humanos e seus cães: os batimentos cardíacos se sincronizam durante atividades mais intensas e mesmo quando estão relaxados, demonstrando uma importante conexão fisiológica e emocional entre eles. Os pesquisadores investigaram a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) em 25 duplas de cachorros e seus tutores durante interações em diferentes tarefas e momentos de descanso.

As raças de cães que participaram do estudo, publicado na revista Scientific Reports, foram as mais conhecidas por cooperar com humanos, como cães pastores e retrievers, para padronizar o nível de atenção que os animais dariam aos comandos dos tutores. Entre os critérios para escolha das duplas estavam a não existência de problemas cardíacos e algum nível de rotina de atividade física.

As duplas foram equipadas com sensores de eletrocardiograma (ECG) e dispositivos para medição de atividade física. Durante o estudo, os tutores e seus cães executaram tarefas divididas entre treinar, farejar, receber carinho e brincar. Também foram analisados os momentos antes do início dos “exercícios” e ao fim dos comandos, quando a interação era livre e eles podiam descansar. Dados da VFC e da atividade foram coletados e correlacionados estatisticamente.

Essa abordagem garantiu que os pares tivessem seus dados de frequência cardíaca analisados sob as mesmas condições experimentais. O objetivo era monitorar e comparar os padrões de VFC, que refletem as respostas do sistema nervoso autônomo, para identificar se havia comodulação ou sincronia nas respostas fisiológicas entre cães e humanos.

A pesquisa mostrou que a variabilidade da frequência cardíaca e os níveis de atividade física dos cães e seus tutores estavam sincronizadas. Os humanos mais ativos fisicamente tinham cachorros mais ativos também. Se a pessoa estivesse em alta excitação emocional (como agitação ou entusiasmo), o pet demonstrava igual excitação. Isso confirma estudos anteriores que já apontavam que o comportamento e os hormônios de cães e humanos podem se sincronizar.

No entanto, o estudo trouxe um achado interessante: apesar de haver uma relação clara entre exercícios e a VFC, a atividade física sozinha não explica a sincronia percebida entre os cães e os tutores que fizeram parte da experiência. Outros fatores como emoções compartilhadas também estão influenciando o alinhamento da VFC. Isso porque a sincronização foi notada até nas horas de descanso, quando nem animal nem humano tinham tarefas a cumprir.

Ligação emocional

Em humanos, é sabido que pessoas conectadas pelo apego (como mães e bebês) podem sincronizar seus níveis de excitação emocional, o que é refletido na variabilidade da frequência cardíaca. Essa sincronia pode ser ampliada pelo contato físico, especialmente em momentos de intensas emoções, como durante brincadeiras.

O estudo sugere que cachorros e seus tutores também compartilham importantes níveis de excitação emocional, mesmo quando não estão diretamente interagindo. Bastar estar no mesmo ambiente. Essa ligação emocional parece se manifestar de maneira semelhante à que ocorre entre humanos próximos. Ela foi observada até em interações de curto prazo. Ou seja, a pesquisa aponta que a relação entre cães e tutores envolve uma conexão emocional e fisiológica profunda.