Ser tutor de um pet e morar em um apartamento envolve alguns desafios, por vezes complexos, a depender das regras do condomínio. Uma das questões é o uso do espaço, o que vai do ambiente comum ao particular. Afinal, um animal que passa o dia sozinho e trancado, sem nada capaz de entretê-lo ou gastar sua energia, pode externar seu estresse por latidos constantes. O fato é que há cada vez mais lares com um bicho de estimação. Isso obriga o mercado a pensar mais também em áreas e facilidades para as famílias com cães e gatos.

De acordo com a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), a população de pets por aqui supera 160 milhões. Outro levantamento demonstra como eles estão mais presentes nos lares. Uma pesquisa divulgada no ano passado, feita por uma startup de gestão condominial, uCondo, indica que a cada 100 apartamentos no Brasil, 13 têm um bicho como morador.

São dados que apontam como é importante pensar no conforto dos companheiros peludos nas casas. Por sinal, a palavra “peludo” remete a um problema que pode surgir se o bicho é daqueles que formariam um tapete com o que sai na escovação: o entupimento de canos se o tutor decidir dar os banhos em seu pet no box. Essa situação levou a Vila 11, empresa que administra e opera residências para locação em São Paulo, a criar um espaço próprio para o banho, batizado como “pet wash”.

Pet wash e pet place como diferenciais

Essa é uma das facilidades que faz com que Mariana Crisóstomo de Almeida, gerente de programa, leve uma vida mais tranquila no prédio onde mora com Chloe, uma cachorrinha sem raça definida (SRD) de dois anos. Ela é de Brasília e buscava um lugar que tivesse infraestrutura que lhe proporcionasse conforto e diferenciais como academia e espaço gourmet. Com ela, veio também uma gata SRD, Mavie.

Na procura por um lar em São Paulo, ela descobriu o condomínio onde vive atualmente, na Vila Mariana (zona sul da cidade), que conta com o tal pet wash e também um pet place, uma área em que o bicho pode brincar (também conhecida como pet park). Mariana logo se integrou à comunidade de moradores que contam com pets, que conversam em um grupo de WhatsApp.

Um dia, uma pessoa do grupo mostrou que tinha sido encontrada uma cachorrinha perto do seu local de trabalho. “Foi amor à primeira vista”, disse. E, assim, Mariana cresceu sua família: adotou Chloe, que hoje usufrui 100% das facilidades oferecidas no condomínio para as famílias multiespécie. “Por causa dela, conheci mais gente. Ela gosta da convivência com outros cachorros”.

Em dias mais frios, Mariana leva Chloe para o pet wash, que tem um secador profissional apropriado para cães. O espaço é fechado e decorado e a tutora o considera seguro para dar banho na cachorrinha.

O pet place fica em área ao ar livre, mas é cercado para permitir que o tutor também relaxe enquanto o animal corre e brinca. O prédio tem ainda espaço de coworking e um pequeno “mercadinho” para compra de produtos de última hora, como petiscos para os pets.

A área de banho do condomínio, o pet wash, tem estrutura adequada para os bichos.

Mais atenção aos pedidos dos moradores

Segundo Jorge de Moraes, diretor de comunicação e marketing da Vila 11, a empresa busca entender as necessidades dos moradores. A partir disso, surgem melhorias que podem ser incorporadas em outros condomínios. Foi o que ocorreu com os espaços pet wash e pet place.

Por pertencerem a um grupo internacional (Evergreen), eles também podem mapear tendências globais. A maior integração dos animais de estimação à família é um fenômeno mundial, que se repete no Brasil, onde a população é aficionada por cães e gatos, como ressaltou Moraes. “No pós-pandemia, muita gente adotou um pet”, completou.

Nos Estados Unidos, se percebia uma expansão de pessoas solteiras que tinham um pet como companheiros. Era importante desenvolver projetos pensando nesse público. Para o primeiro prédio que iriam lançar para locação, na Vila Madalena, a Vila 11 consultou o Dr. Pet (Alexandre Rossi) para orientar a construção do pet park. “Pensamos muito em material. Não podia ter nada sintético, para eliminar maiores riscos se o pet comesse alguma parte. Criamos uma área ajardinada com pedrisco branco para facilitar a manutenção”, revelou.

A Vila 11, que deve fechar o ano com 14 prédios, escuta os moradores para aprimorar as facilidades. Afinal, cerca de 30% têm pets. E aproximadamente 40% são pessoas fora de São Paulo. Uma das percepções foi a necessidade de investir em uma máquina de lavar e secar roupas de bichos na lavanderia compartilhada. “Temos velocidade para implementar essas mudanças”, disse.

Esse tipo de diferencial vem sendo trabalhado na comunicação. É comum que pessoas com pets não comuniquem o fato de serem tutoras. De acordo com Moraes, quando elas percebem que há instalações que procuram ajudar a rotina de cuidados, isso se torna um fator de decisão para quem está pesquisando lugares para morar.