21/11/2024 - 9:42
Quando um cachorro sacode a água do pelo, a ação não é apenas uma onda aleatória de movimentos. Esse reflexo instintivo é compartilhado por diversos mamíferos, do rato ao tigre, de esquilos a leões. O movimento efusivo ajuda a remover a água e também insetos ou outras causas irritantes de lugares difíceis de alcançar. Mas por trás de todo esse “sacode” está um mecanismo neurológico complexo, que começa a ser desvendado.
Neurocientistas da Harvard Medical School (EUA) identificaram o circuito neural que desencadeia esse comportamento característico de sacudir o corpo molhado. A investigação, porém, não foi com cachorros, e sim com ratos.
O movimento envolve uma classe específica de receptores de toque e neurônios que conectam a medula espinhal ao cérebro. As descobertas foram publicadas na revista Science de novembro. Esse sistema de toque é tão complexo que o animal pode distinguir uma gota de água, um inseto rastejante no pelo ou o carinho suave de uma pessoa querida.
A pele coberta de pelos dos mamíferos conta com mais de 12 tipos de neurônios sensoriais, cada um com uma função única para detectar e interpretar sensações. O time de pesquisadores, que teve Dawei Zhang como líder, se concentrou em um tipo de receptor ultrassensível de detecção de toque, os mecanorreceptores de baixo limiar na fibra C (ou C-LTMRs, na sigla em inglês). Eles envolvem os folículos capilares.
Humanos também tem esses receptores, que, no caso, estão associados a sensações agradáveis, como um abraço. Em animais como cachorros eles têm papel protetor, servindo para alertar sobre a presença de algo na pele, que pode ser uma sujeira ou um parasita. Quando estímulos externos fazem com que os pelos da pele se dobrem, os C-LTMRs são ativados.
Para identificar melhor o processo envolvido nessa chacoalhada – mais conhecida por causa dos cães -, os pesquisadores aplicaram gotas de óleo de girassol na parte de trás do pescoço de camundongos. Quase todos sacudiram as gotas em dez segundos. Depois, por manipulação genética, alguns animais tiveram removidas a maioria de seus C-LTMRs. O resultado: eles tiveram uma redução de 50% nas sacudidas quando novas gotas de óleo foram aplicadas, em comparação com camundongos do grupo de controle (não modificados).
Os pesquisadores estudaram também o caminho percorrido pelos sinais dos C-LTMRs pelo sistema nervoso. O trabalho mostrou que os receptores se conectam a uma área no cérebro chamada de núcleo parabraquial, que está envolvida no processamento de dor, temperatura e toque.
Com isso, ficou claro que o “sacode” do cachorro, quando ele se molha, é uma resposta motora muito coordenada. O estudo é um bom ponto de partida para que a ciência investigue como o cérebro envia comandos para controlar o movimento.
Zhang disse que pesquisas futuras também podem investigar se C-LTMRs hiperativos contribuem para condições como a “síndrome da pele contraída” em gatos, que envolve ondulação repentina da pele e contração excessiva.