08/10/2025 - 7:15
O cão que é símbolo do Brasil ganhou um filme para conquistar não apenas os “cachorreiros” daqui. “Caramelo”, uma produção da Netflix e Migdal Filmes, estreia nesta quarta-feira, 8, na plataforma de streaming, atingindo 190 países. O drama é estrelado pelo ator Rafael Vitti e traz nos créditos, logo de início, o coprotagonista, Amendoim, um jovem vira-lata que pode representar os caramelos que perambulam pelas ruas das cidades brasileiras – e de outras, em cantos diversos do planeta, como Índia, Tailândia e México. O astro de quatro patas, diga-se, teve plena liberdade de atuar. Mas também demonstrou que nasceu para brilhar diante das câmeras.
Na trama, Pedro (Vitti) é um chef que está empenhado em crescer na carreira e que, de repente, assume a cozinha de um restaurante estrelado. Uma prosaica coxinha o ajuda a alcançar a posição. Mas em cena surge também, para bagunçar panelas e a vida do jovem chef, um caramelo que vivia na rua (Amendoim). A conexão entre os dois é imediata, embora cheia de percalços comuns a quem tem um bicho cheio de energia que não está habituado a morar em apartamento.
Entre os desafios e as alegrias de cuidar do companheiro peludo e reinventar o cardápio do restaurante, Pedro recebe um diagnóstico que vira tudo de cabeça para baixo. A ajuda do simpático e arteiro cachorro, que é batizado de Caramelo, é fundamental para guiar a jornada do chef, que busca novos significados em sua vida.
Quem mais está no filme
No elenco estão também Arianne Botelho, Noemia Oliveira, Ademara, Kelzy Ecard, Bruno Vinicius, Roger Gobeth e Olívia Araujo, além de Cristina Pereira e Carolina Ferraz. A chef Paola Carosella tem uma participação especial. A música-tema é interpretada por Iza.
Impregnada de emoção, a história traz mensagens de adoção responsável e de cuidados que os tutores devem ter com seus pets. Apoiado no trabalho de especialistas e ativistas da causa animal, o roteiro tem, de fato, o potencial de inspirar adoções mundo afora. Essa é uma das expectativas do diretor Diego Freitas (“Tire 5 Cartas”, “O Lado Bom de Ser Traída”). É dele a ideia original. “Tenho certeza de que a mensagem da adoção impacta muita gente. O filme mostra como um cachorro tem o poder de transformar a vida”, afirma. Vitti corrobora: “Não tenho dúvida de que o número de adoções vai aumentar muito depois desse filme, principalmente de vira-lata. Isso é muito importante”.
Vira-latas formam a maioria dentre os 20 milhões de cachorros abandonados no país, sejam amarelos, pretos, fiapos de manga, “rebaixados”, grandes, jovens ou idosos. O caramelo dá cara a esse contingente. “Meu sonho é que ele vire um cachorro famoso no mundo inteiro. Ele representa muita gente. Representa o povo brasileiro”, completa Freitas.
Como surgiu a história
O projeto do filme surgiu por conta de um desses cães. Na pandemia, o diretor adotou Paçoça, uma cachorrinha que tem seis anos hoje. “Desde aquele momento pensei que a gente devia fazer um filme de caramelo no Brasil”.
Como escolher o astro do filme, um cachorro com a estampa do ícone brasileiro e que pudesse atuar? A solução foi recorrer a Luís Oliveira ou Luís Estrelas, treinador com 45 anos de experiências com cães e que fundou a Estrelas Animais, de onde vem seu “sobrenome” mais popular. Ele procurava candidatos quando Amendoim bateu à porta. “Ele que pediu emprego para gente”, brinca o treinador. No sítio que a Estrelas mantém como parte de seu complexo, um filhote caramelo apareceu na porta. Eram 17h, lembra Luís. Seu irmão Jeová, que também é treinador e trabalhou na produção do filme, o avisou: tinha um simpático cão “sentadinho” do lado de fora. E comentou: “Ele é diferenciado”.
Amendoim, nascido para filmar
A frase foi o suficiente. Afinal, eles estão habituados a preparar cães para comerciais e filmes e conseguem identificar potenciais talentos. No primeiro momento, a produção considerou Amendoim jovem demais. Mas Luís começou a treiná-lo para campanhas publicitárias e, desse modo, o pequeno caramelo se habituou ao ambiente de filmagens. Para um novato, ele captava os comandos rápido demais. “De primeira”, diz o treinador. Três meses depois e já com aspecto de cão adulto, Amendoim foi aprovado e, assim, entrou para o time de atores com produções na Netflix.
Vitti, que está habituado com cães, considera Amendoim um grande parceiro. “Como tenho vivência com cachorros, eu sabia o que precisava fazer para a gente se entender no set, que é um lugar super controlado, onde temos horários e tempos para cumprir”. O ator revela que acreditava que não seria fácil – isso antes das filmagens. “Foi muito mais fácil do que eu imaginei. Em vários momentos em que precisei me reconectar com o roteiro, bastava olhar para a carinha dele. O olharzinho me fazia lembrar do porquê estamos fazendo esse filme. A história do próprio Amendoim faz com que a gente relembre a importância de a gente resgatar um animal. Ele era um cachorro de rua e agora está aí: uma estrela mundial”, completa Luís, que no começo teve a parceria de um treinador e consultor norte-americano, Mike Miliotti (“Garfield – O Filme”).

Cães e treinadores no set
Sobre consultorias, a produção se cercou de especialistas na área médica (em função da doença do personagem Pedro), na área de gastronomia e na parte de pets. Segundo a Netflix, 83 cães participaram do projeto, entre elenco fixo e figuração – e todos os que vieram de abrigos ou de ONGs foram adotados. Dezessete profissionais trabalharam no treinamento e manutenção do bem-estar de todos os cachorros no set. Os cães adultos praticavam natação e caminhada para fortalecimento muscular, além de massagem após as gravações, para relaxamento. O mesmo tratamento reservado ao astro.
A respeito desse apoio, Freitas destacou que as consultorias foram importantes para que pudessem fazer um filme respeitoso e autêntico. “A gente pesquisou especialmente os animais que ajudam pessoas que estão passando por questões de saúde. Existe todo um trabalho terapêutico com cachorros que visitam hospitais, os cães de auxílio. É um trabalho lindo. A gente investigou esse lado e o filme fala um pouco sobre isso”, revela.
Dublê de cachorro
Como protagonista, Amendoim teve diversos desafios. Como encenar em uma cozinha, percorrendo mais do que os habituais ponto A para ponto B, uma marcação típica para animais que fazem comerciais ou que têm participações em filmes. Na cozinha, era tanta movimentação que a produção precisou contar com dublê – alguns cachorros parecidos com o protagonista estavam preparados para participar de uma tomada específica. E foi preciso treinar com sons como pratos caindo.
A cena na cozinha pedia muitos deslocamentos. Então, Amendoim teria de fazer mais do que um “ponto A para ponto B”. A execução foi a mais difícil de todas, conta Luís Estrelas. “Ele teve de fazer pontos ABCDE. E ele fez isso sozinho. É claro que a gente ensaiou bastante. No dia, fizemos quatro repetições antes de filmar. Quando o Diego falou ‘ação’, aí ele pulava no pontuar certo. Foi perfeito”, lembra o treinador.

Para os dublês, foram selecionados cães a partir de uma rede que incluía institutos e ONGs. Os “sósias” foram importantes para revezamento de cenas com Amendoim, permitindo pausas de descanso para todos. “A produção inteira e o set foram pensados 100% para os cães. Tudo foi feito no tempo deles, e sempre como uma grande brincadeira. E a gente estava ali para captar esses momentos. Inclusive muita coisa acabou entrando no filme que o próprio Amendoim nos entregou espontaneamente”, revela o diretor.
Um dos dublês é um cão idoso, Amarelo, de 15 anos. Ele já tem uma família. Então, não precisou de um treinamento específico para a cena que protagonizou. Já é um animal socializado. “É minha cena favorita. Não posso falar qual é porque é spoiler. Mas sonhei com ela desde o primeiro dia em que tive a ideia do filme. O Rafa e o Amarelo entregaram uma poesia. Eu me emociono”, confessa Diego. Ao que Vitti acrescenta: “É um ápice de emoção”.

Leôncio, cachorro de três patas, adotado por Vitti
E por falar nisso: o ator adotou um dos cães do elenco. Leôncio, um cachorro de três patas. “O primeiro cachorro que adotei – e que foi meu maior companheiro canino – foi o Nino. Ele foi adotado em 2017. Faleceu na pandemia. Foi um momento muito triste para mim. Ele era tripé. Tinha três patinhas. Eu vi o Leôncio e me remeteu na hora ao Nino, por quem eu ainda tenho amor. A gente não deixa de ter só porque eles não estão mais aqui. Eu sempre lembro dele com muita gratidão. Eu adotei o Leôncio por conta disso. Porque eu queria também transformar a vida dele. E eu sabia que ele ia transformar a minha. Ele está super bem lá em casa, cheio dos irmãos porque a gente tem um monte de cachorro”, conta. Vitti e sua mulher, Tatá Werneck, são apoiadores da causa animal e em especial dos SRDs. Em abril, ela adotou uma caramelo, Alice.
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