Poucos setores conseguem revelar tanto sobre os hábitos de consumo de uma sociedade quanto o pet. Basta comparar Estados Unidos e Brasil para perceber como dois países podem caminhar em direções diferentes, mas guiados pela mesma bússola: a humanização dos animais de estimação.
Nos Estados Unidos, levar o cachorro ao banho não é um mimo ocasional. É rotina. O serviço pode custar entre 50 e 90 dólares — algo como 250 a 450 reais na conversão direta — e ainda assim encontra demanda consistente. Por aqui, no Brasil, o preço médio do banho fica entre 50 e 120 reais. Essa diferença não é apenas de câmbio: mostra o quanto o consumidor americano está disposto a investir de forma constante na qualidade de vida do pet, enquanto o brasileiro ainda equilibra desejo e poder de compra.
Os números reforçam esse abismo. O tutor americano gasta, em média, mais de 1.500 dólares por ano com cada animal. Já o brasileiro investe de 500 a 1.200 reais. A distância se repete no tamanho dos mercados: 150 bilhões de dólares movimentados em 2024 nos EUA contra 60 bilhões de reais no Brasil. Lá, o crescimento é estável, entre 5% e 7% ao ano. Aqui, explosivo: 13% a 15%. É como se estivéssemos assistindo a um mercado em fast forward, com todas as dores e oportunidades desse amadurecimento acelerado.
Mas, se os Estados Unidos são o retrato da consolidação — com grandes redes como PetSmart e Petco oferecendo pacotes completos de grooming, daycare, hospedagem e até planos de saúde —, o Brasil ainda tem um cenário fragmentado, dominado por pequenos empreendedores. A padronização engatinha, mas a criatividade local e a energia de um setor em ebulição compensam. Creches, hotéis e pet sitters começam a ganhar espaço nas capitais, impulsionados pela urbanização e pela vida corrida das famílias.
Há, claro, diferenças culturais. Para o americano, gastar com o pet é tão natural quanto pagar a escola do filho. No Brasil, muitos serviços ainda são vistos como luxo, mas esse olhar começa a mudar. E, se a profissionalização lá já é regra, com certificações e protocolos bem definidos, aqui ainda engatinhamos na formação técnica.
O que une os dois países é a mesma onda: a digitalização dos serviços, a busca por conveniência e personalização e a expansão de cuidados que vão além do básico: nutrição, estética, comportamento, bem-estar emocional. É a transformação do pet em estilo de vida.
No fim, estamos olhando para duas fotografias de momentos diferentes da mesma história. Os Estados Unidos mostram o que acontece quando o setor atinge maturidade. O Brasil, por sua vez, carrega o frescor das oportunidades ainda não exploradas. Para quem empreende ou investe, o segredo não é copiar o modelo americano, mas traduzir tendências globais para a realidade brasileira. Nesse jogo de adaptação cultural e econômica, mora o verdadeiro potencial de crescimento.
E, convenhamos, se um banho de cachorro em Nova York custa quase o mesmo que uma diária de hotel em São Paulo, dá para imaginar o quanto ainda temos a avançar até que o mercado brasileiro trate o bem-estar animal não como luxo, mas como parte do dia a dia.