A alimentação sempre foi um ato de cuidado. Mas, no vínculo entre humanos e animais, ela também pode se transformar em projeção, tentativa de controle ou reflexo silencioso do nosso próprio estado emocional.

Como especialista em transtornos alimentares, observo o quanto essa projeção de afeto ou de angústia aparece na relação com o alimento. E isso não se limita aos humanos: o que colocamos no pote do pet pode dizer mais sobre nós do que imaginamos.
No consultório, em rodas de conversa com tutores ou nos bastidores das equipes veterinárias, vejo com frequência a alimentação virar uma estratégia emocional.

Às vezes, o que se oferece ao pet é muito mais do que comida. É uma forma de lidar com o silêncio da ausência, a culpa por não ter feito diferente ou a ansiedade de quem precisa, a qualquer custo, acertar.

O médico veterinário Felipe Romano, responsável pela Clínica Ferogastro, observa que muitos tutores projetam suas próprias crenças alimentares nos pets. “Isso acontece com frequência em famílias com idosos ou diante da recusa do pet em comer. O tutor se angustia, exagera, e o que era afeto vira risco clínico”, explica. Ele menciona quadros como vômitos, diarreia e até doenças mais graves, como hepatite e pancreatite, provocados por uma rotina alimentar desorganizada.

Costumo dizer que a intenção é de cuidado, mas a forma revela tensão.

A alimentação deixa de ser leve e passa a expressar controle, muitas vezes sem que o tutor perceba. É como se o prato dissesse o que as palavras não conseguem: “estou sobrecarregado, quero acertar, não quero falhar de novo”.

Laís Murta, nutricionista especialista em psiquiatria, reforça essa tese: “Muita gente busca na alimentação uma forma de organizar o que está bagunçado por dentro. Isso se estende à forma como cuidam da comida dos outros, inclusive dos pets”. Para ela, a diferença entre cuidado e rigidez está na flexibilidade: “O prato pode estar perfeito, mas se carrega exigência e culpa, o que chega ao outro não é afeto, é peso”.

Segundo Laís, esse excesso de controle aparece com frequência em pessoas emocionalmente sobrecarregadas, que tentam transferir o cuidado para algo mais administrável, como o prato de comida: “Quando a gente está exausto, tenta controlar o que dá. E às vezes isso recai sobre o que os outros comem: filhos, parceiros, animais. A nutrição deixa de ser afeto e vira cobrança”.

Essa lógica também vale para o comportamento animal. Na prática clínica, é comum ouvirmos relatos de mudanças digestivas ou comportamentais nos animais após viagens, separações ou conflitos na casa. “Os pets respondem com anorexia, gastroenterite, mudanças no sono e até agressividade. Não falam, mas expressam”, pontua Felipe.

O zootecnista João Marcel Camargo, especializado em nutrição e comportamento de cães e gatos, explica que a ciência já reconhece o eixo intestino cérebro nesses bichos. “Cães com ansiedade, fobias e agressividade têm composição microbiana diferente dos saudáveis. Já temos psicobióticos com impacto comprovado em comportamentos como ansiedade de separação”, afirma.

Essa conexão também envolve o tutor. O estresse emocional da casa pode alterar a microbiota do pet, e isso se manifesta clinicamente. “Mudanças no escore fecal, no apetite e na reatividade ocorrem nas mesmas janelas de instabilidade emocional da família”, comenta João.

Para mim, essa é uma das chaves mais importantes do tema: a saúde mental não é só de quem cuida, mas também de quem convive.

Entre as soluções emergentes, a BugLoversBR surge com uma proposta alinhada à saúde integral dos pets. A marca trabalha com proteína de insetos (Hermetia illucens), altamente digestível, anti-inflamatória e segura. Estudos mostram que ela pode modular positivamente a microbiota e, ao favorecer o equilíbrio intestinal, criar condições mais estáveis para o bem-estar comportamental.

Minha escuta clínica se volta, com frequência, a esses atravessamentos invisíveis. Quando a alimentação se torna linguagem ou uma tentativa de reparo emocional, o ato de alimentar deixa de ser neutro.

Assim, o que está em jogo não é só o que se come, mas o que se comunica, o que se evita, o que se controla.

No vínculo com os pets, isso aparece de forma ainda mais sutil: por trás do pote cheio, às vezes há um afeto que não sabe como chegar de outro jeito, uma ansiedade que busca alívio ou um medo de falhar que se expressa na rigidez.

O cuidado real, aquele que promove saúde, passa por reconhecer esses excessos e reconstruir o gesto de alimentar como expressão de presença e não como sobrecarga emocional. Porque, no fim, a pergunta não é só o que oferecemos, mas o que estamos tentando nutrir em nós e no outro.