Eles são silenciosos, limpos, não exigem passeios e passam horas sozinhos sem fazer alarde. Por isso, o gato ainda é visto por muitos como um pet “prático”. Mas toda vez que ouvimos alguém dizer que o gato é autossuficiente, precisamos perguntar: essa independência é real ou apenas conveniente para uma sociedade que valoriza relações funcionais e pouco exigentes?

Como psicóloga especializada em saúde mental no setor petvet, observo que o mito da independência felina revela mais sobre a forma como nos relacionamos com o cuidado do que sobre os próprios gatos. Projetamos neles o desejo de convivência sem demanda, sem fricção, sem perturbação. Mas será que isso existe em qualquer relação viva?

A comportamentalista felina e médica veterinária Sandra Bueno explica que essa fama tem raízes comportamentais e evolutivas. “Gatos lembram muito os felinos selvagens. Eles se limpam, enterram suas necessidades e, de fato, se adaptam melhor que os cães quando deixados sozinhos. Mas isso não significa que não precisem de cuidados”, alerta.

E é justamente esse equívoco que leva tutores a cometerem erros importantes: deixar o gato sozinho por dias com comida e água, liberar o animal para a rua, oferecer ração de baixa qualidade ou manter a casa sem estímulos. “Apesar da fama de autossuficientes, os gatos são sensíveis, territoriais e afetados por mudanças na rotina. A ausência de estímulo pode causar estresse, ansiedade e comportamentos destrutivos”, complementa Sandra.

Já a médica veterinária Cinthia Rosolen chama atenção para outro ponto crítico, a saúde. “Existe um mito de que o gato se vira sozinho, e isso é muito prejudicial. Muitos tutores só procuram atendimento quando o gato já está doente e os felinos são especialistas em esconder sinais de dor ou desconforto.”

Males como insuficiência renal, artrose, hipertireoidismo e diabetes, além de problemas dentários, são comuns e silenciosos. Como os sintomas são sutis, os tutores frequentemente interpretam como coisa da idade ou mania de gato. Mas não são. O atraso no reconhecimento dos sinais pode custar caro para o animal e para quem cuida.

Essa negligência muitas vezes não é por maldade. Ela nasce da desinformação, da idealização e da falta de espaço social para o cuidado afetivo com os gatos. Durante muito tempo, os felinos foram tratados como animais do quintal, autônomos, menos afetivos.

Hoje sabemos que isso não se sustenta. Porém a mudança cultural exige tempo, escuta e responsabilidade.

E há um aspecto ainda pouco explorado: a forma como o vínculo com o gato pode favorecer a introspecção. Diferente da lógica da alta disponibilidade, os felinos nos ensinam sobre limites, espaço, presença silenciosa. Talvez por isso tantas pessoas relatem uma sensação de conexão consigo mesmas ao conviver com um gato. É como se ele não exigisse tanto da nossa performance, mas pedisse uma escuta mais fina, menos barulhenta. Um convite raro, e necessário, num mundo cada vez mais ruidoso.

A verdade é que o gato não exige pouco; ele exige diferente. Isso desafia os modelos convencionais de relação. Exige observação, presença atenta, rotina estável, enriquecimento ambiental, alimentação de qualidade e cuidado preventivo. Exige sensibilidade para perceber que um comportamento esquisito pode ser, na verdade, um pedido de ajuda.

Essa escuta ativa, que tanto valorizamos na clínica psicológica, também pode ser aprendida no convívio com os pets.

Nas formações que ofereço para profissionais do setor, costumo dizer que quem cuida precisa saber interpretar o que não está dito. E, no caso dos gatos, isso é quase regra.

Até mesmo um simples ritual de oferecer um petisco pode ser um momento de escuta e presença. “O Churu foi pensado para promover um momento especial entre tutor e gato, permitindo que seja oferecido diretamente do tubo, reforçando o vínculo de forma afetuosa e interativa”, conta Iara Pachelli, gerente de marketing da Inaba. Segundo ela, o produto tem sido usado como ferramenta emocional em situações de adaptação, socialização e manejo de estresse. “Recebemos muitos relatos de tutores que usam o Churu para facilitar momentos delicados, como administração de medicamentos ou visitas ao veterinário.”

Além do aspecto prático, há uma dimensão relacional profunda nesse gesto. “O momento de oferecer Churu se torna um ritual de confiança. O gato se aproxima, relaxa e associa a presença do tutor a algo prazeroso. Essa troca, ainda que simples, reforça a conexão afetiva e ajuda a construir um relacionamento mais próximo e respeitoso”, ensina Iara.

A proposta da marca também é contribuir para uma nova cultura de cuidado mais consciente. “Buscamos promover uma forma de se relacionar com os felinos mais atenta às suas necessidades emocionais e comportamentais”, afirma.

Entretanto, o vínculo com o pet não nasce da ausência de demanda, mas da disposição para compreender o outro, inclusive quando ele é silencioso. A ideia de independência, nesse caso, pode ser só mais uma forma de evitar o encontro real com as necessidades do outro e com a responsabilidade afetiva que isso exige.

E, no fim das contas, esse vínculo também nos transforma. Quando aprendemos a escutar nossos gatos, escutamos mais de nós mesmos. A presença de um felino, com sua delicadeza e seu mistério, pode ser um fator de regulação emocional, de alívio da solidão e de reencontro com a quietude, essa que anda tão escassa. Cuidar bem de um gato pode ser, sem exagero, um caminho para cuidar melhor da própria saúde mental.