Nos últimos anos, vi muita gente entrar no setor pet com os olhos brilhando. Era só abrir um espaço bonito, com paredes instagramáveis, recepção cheirosa e uniforme colorido que, em teoria, os cães e seus responsáveis apareceriam aos montes. E, de fato, alguns aparecem curiosos, seduzidos pelo marketing ou pela localização. Mas, no mercado pet, não é isso que sustenta um negócio.

Esse é um setor que exige tempo, consistência e, sobretudo, construção de confiança. Quem empreende aqui precisa entender que a lógica não é a do varejo tradicional. Um pet shop pode até vender por impulso. Mas um serviço, um hotel, uma creche ou uma clínica veterinária não crescem com pressa – crescem com vínculo.

Não é exagero dizer que conquistar um cliente aqui é como ser aceito por uma nova família. Você entra devagar, com respeito, e vai provando, dia após dia, que é confiável. O responsável pelo cão não volta por causa do cheiro da recepção. Ele volta porque confia. Porque sabe que o cão dele dorme tranquilo, come na hora certa, brinca de forma segura. E isso não se cria da noite para o dia.

Empreender no mercado pet é ter clareza de que os frutos não vêm nos primeiros meses. Os investimentos são relevantes, a operação é delicada, e qualquer ruído de comunicação, de processo, de gestão pode custar caro.

Abrir um banho e tosa profissional pode exigir entre R$ 100 mil e R$ 250 mil – só pra começar! Uma creche ou hotel com estrutura completa, segurança e equipe técnica pode ultrapassar os R$ 400 mil facilmente. E clínicas veterinárias, com salas de procedimento, exames e equipe especializada, muitas vezes passam da casa de R$ 1 milhão para funcionar de forma minimamente estruturada.

Mas aqui vai a virada de chave: quem estrutura bem desde o início, e consegue construir relação e reputação, tem na mão um ativo valioso e um negócio que pode escalar com previsibilidade.

A boa notícia é que, uma vez amadurecido, esse negócio se torna uma máquina de geração de valor e receita recorrente. E aí sim o setor mostra sua força: um cliente satisfeito pode ficar anos com você, gerando resultados muito acima da média do mercado tradicional.

Mas, para isso, é preciso resistir à pressa. Evitar atalhos. Saber que a estética importa, mas não substitui cultura, rotina, atendimento e cuidado real. Vejo muitos empreendedores brilhantes que trazem know-how de outros setores e, por acharem que o mercado pet é simples, acabam se frustrando. O que falta, na maioria das vezes, não é capital. É paciência e visão.

Se você está pensando em investir nesse setor, meu conselho é claro: entre com responsabilidade. Não pense no primeiro mês, pense nos próximos cinco anos. Não olhe apenas para a fachada, olhe para a operação. E, acima de tudo, não subestime o poder de uma relação verdadeira entre um cão, sua família e quem cuida dele.

Esse é um mercado apaixonante. Mas só devolve tudo o que pode dar para quem escolhe crescer com ele, e não apenas explorá-lo.