Óculos para pets? Muita gente pode pensar que o produto serve apenas para fazer fotos e arrancar sorrisos dos tutores. Mas há casos em que eles são prescritos por médicos veterinários. Além disso, existem modelos criados por empresas norte-americanas, como Rex Specs e Doggles, que protegem os olhos dos animais durante atividades físicas, em aventuras na natureza ou no trabalho junto a humanos.

O fato é que ninguém quer que seu cachorro ou gato use óculos por um problema de saúde ocular. Para ajudar o pet a manter a visão em ordem ou evitar males como o glaucoma – doença devastadora que causa dor e pode levar à cegueira –, é importante fazer anualmente um check-up dos olhos, rotina que muda para uma vez por semestre quando o bicho de estimação atinge os cinco anos.

A recomendação é do oftalmologista veterinário Jorge Pereira, do Rio de Janeiro, que há mais de 40 anos cuida da saúde ocular de pets. Com essa experiência, ele assegura que o tutor brasileiro cuida mais dos olhos de seus animais do que dos próprios.

De todo modo, para chamar atenção da população para a prevenção de problemas oculares de seus companheiros peludos surgiu a campanha Junho Violeta Pet. Antes que o mês acabe, ainda dá tempo de marcar a visita ao especialista e fazer uma avaliação da saúde ocular do cão ou do gato da família.

Jorge Pereira é oftalmologista veterinário há mais de 40 anos. (Crédito:Acervo pessoal)

Confira entrevista com o oftalmologista veterinário Jorge Pereira:

IstoÉ Pet – Em geral, que atenção os tutores dão à saúde dos olhos de seus bichos de estimação?
Jorge Pereira – Tutores brasileiros dão toda a atenção necessária à saúde ocular dos seus pets. Na minha opinião, não há tutor no planeta mais disposto do que o brasileiro a cuidar dos seus pets. Muitas vezes priorizam uma cirurgia de catarata, por exemplo, em seu pet, atrasando o seu próprio tratamento.

IstoÉ Pet – Que motivos mais levam os tutores a procurarem o especialista?
Pereira – Os mais comuns são as infecções de pálpebras e conjuntiva dos pets, bem como as perdas de visão, sejam súbitas, sejam progressivas.

IstoÉ Pet – O que o tutor deve fazer para garantir uma boa saúde ocular dos bichos?
Pereira – Um check-up preventivo anual e, a partir de 5 a 6 anos, semestral. Caso note secreções, vermelhidão ou piscar excessivo, com lacrimejamento também excessivo, ele deve correr para uma visita ao especialista.

IstoÉ Pet – Quais são as causas mais comuns para perda de visão?
Pereira – As causas mais comuns de cegueira são as cataratas (com cura cirúrgica), o glaucoma (com controle se diagnosticado o mais precocemente possível, mas sem cura efetiva), e as doenças hereditárias de retina. Não atendemos muitos casos de trauma por briga ou acidentes.

IstoÉ Pet – Se um pet está lacrimejando os olhos com alguma frequência, qual deve ser o procedimento imediato do tutor? Levar imediatamente ao veterinário ou acompanhar o problema por um tempo? O que deve acender o sinal de alerta?
Pereira – Lacrimejamento excessivo pode ser simplesmente uma alergia a um inalante qualquer. No entanto, pode ser o primeiro sinal de glaucoma, doença devastadora que causa dor e, invariavelmente, cegueira irreversível. Sim, um alerta precisa ser ligado e uma visita ao especialista é altamente recomendável.

IstoÉ Pet – O glaucoma, um problema de pressão ocular, acomete tanto cães quanto gatos?
Pereira – Sim, o glaucoma é considerado a doença mais maligna da oftalmologia, tanto para animais quanto para seres humanos. Ainda por cima, dói e corrói a qualidade de vida dos animais. Um desequilíbrio entre a produção e a drenagem do líquido que circula no olho, o humor aquoso, faz com que a pressão aumente.

IstoÉ Pet – Há diferenças importantes quando se trata de um cão ou de um gato?
Pereira – Há particularidades entre espécies que dão a elas necessidade de atenção dirigida ao indivíduo. Gatos, por exemplo, frequentemente são trazidos com inflamações intraoculares, muitas vezes decorrentes de outras doenças do corpo se manifestando nos olhos.

IstoÉ Pet – O que existe de tecnologia para tratar problemas dos olhos em bichos? Com os avanços dessa área e da ciência, é possível melhorar um problema de visão que, no passado, não tinha solução?
Pereira – Sem dúvidas. Quando iniciei na especialidade, há 42 anos, costumávamos afirmar que a oftalmologia veterinária estava preocupada com a saúde ocular e não com distúrbios como miopia, hipermetropia e astigmatismo. Hoje, ao contrário, também avaliamos a refração e prescrevemos óculos para a correção desses problemas. Esses óculos são presos como os de natação. O tutor passa a presilha por baixo do queixo e atrás das orelhas. Na Califórnia, já existem três startups que produzem os óculos. No Brasil, agora é que conseguimos empresas que se interessaram pela produção.

IstoÉ Pet – Como avalia a oftalmologia veterinária no Brasil hoje? Há mais profissionais surgindo? Há mais pesquisas nesse campo?
Pereira – Para se ter uma ideia, o mundo possui em torno de 700 oftalmologistas veterinários. No Brasil, aproximadamente 3.000 profissionais atuam com interesse especial na área. Nos congressos internacionais, muitas vezes o Brasil aparece como o principal país apresentador de pesquisa em divulgação.

IstoÉ Pet – O que te levou a abraçar essa área? O senhor tem animais de estimação?
Pereira – Minha mãe estava ficando cega, na mesma época em que eu me graduava em medicina veterinária. O fato de eu acompanhar a doença dela (retinopatia diabética) nos médicos me causou um grande interesse pela área. Tenho gatos e cães. São as espécies que me fizeram médico veterinário. Já adulto, aprendi a apreciar demais também os cavalos, além de as outras espécies.