29/12/2024 - 13:05
Gatos são um mistério. Por mais que o tutor conheça os hábitos do felino, sempre pode surgir uma dúvida a respeito de um comportamento específico. O que significa aquele olhar? E por que ele lhe deu uma patada no momento em que fez um simples carinho nas costas? Lançado em 2024, o livro “The Interpretation of Cats – And their owners” promete ajudar a entender melhor a mente e as atitudes do bichano.
Escrita pelo francês Claude Béata, médico veterinário que estudou também psiquiatria para se especializar no comportamento e no bem-estar emocional de pets, a obra se tornou um best-seller na França. No segundo semestre, chegou a outros mercados com a versão em inglês. Não há informações sobre uma possível tradução para o português. O título faz referência ao famoso “A interpretação dos sonhos”, de Sigmund Freud.
Béata aborda ciência, filosofia, psicologia animal, estudos de comportamento e utiliza casos reais para tratar de algumas características dos felinos domésticos, que têm habilidades de caçador, mas que são pequenos o suficiente para serem presas. É uma dualidade que explica por que podem ser desconfiados.
Com base em sua experiência de décadas cuidando de felinos, o autor defende que a regra número um para conviver bem com gatos é nunca puní-los. Gritar, por exemplo, não adianta. Béata afirma no livro que eles não aprendem com punições. Atitudes negativas, portanto, não funcionam com gatos. Para o autor, respeitar a individualidade dos bichanos é essencial. “Os gatos não são programados para hierarquias como cães ou primatas”, observa.
O veterinário francês vai além: se o animal for machucado ou se o tutor resolver assustá-lo por se irritar com algum comportamento, o relacionamento entre animal e humano está ameaçado de quebra de confiança. Para Béata, é como se os bichanos tivessem um caderno secreto em que anotam eventos desagradáveis ou que geraram desconforto.
No livro, o veterinário apresenta alguns cuidados que podem ser adotados pelos tutores. Uma orientação é criar espaços que sejam só dele, o felino. Outra é manter gatos apenas dentro de casa. Aos críticos dessa ideia, ele reforça o argumento de que os felinos são caçadores e presas ao mesmo tempo. No ambiente externo, há mais fatores estressantes. Segundo Béata, gatos mantidos em casa vivem, em média, quatro anos a mais do que os que circulam livremente pela rua.
Um ponto interessante levantado pelo veterinário se refere à convivência forçada entre tutores e pets devido à pandemia de covid-19. Ele analisa os efeitos sobre os bichos de estimação. Cães, que são animais sociais, adoraram a presença constante dos tutores. Gatos, por sua vez, sentiram falta de sua privacidade, já que, para eles, ter seu espaço é fundamental.
De acordo com Béata, em reportagem do jornal The New York Times, gatos podem nos ensinar sobre consentimento e intimidade. “Eles nos dizem: ‘Não me toque se eu não permitir’”. É por isso que, eventualmente, e a depender do gato, ele vai se manifestar de forma menos simpática se o toque acontecer na hora em que não estava disposto. Claro, ele pode não fazer nada que machuque, mas isso não quer dizer que apreciou a “surpresa”.
Melhor, portanto, entender mais dos gostos e da personalidade do seu companheiro peludo antes de ter arroubos de Felícia, aquela personagem de desenho animado extremamente amorosa que adora apertar os bichinhos.