Qual o gene por trás da cor laranja do gato? Essa pergunta levou mais de 60 anos para ser respondida. Duas pesquisas internacionais – uma da Universidade de Stanford (EUA) e outra da Universidade de Kyushu (Japão) – finalmente desvendaram o mecanismo biológico que determina o tom nos felinos. Os estudos também explicam por que a maioria dos bichanos alaranjados é macho.

A descoberta está em uma proteína que influencia a cor do pelo de uma maneira que não tinha sido vista em outros animais. Nessa hora, os apaixonados por seus laranjinhas ou por felinos de cores diferentes podem dizer que só mesmo gatos seriam tão especiais.

Na maioria dos mamíferos, incluindo humanos, o cabelo ou pelo ruivo é causado por mutações em uma proteína da superfície celular, a Mc1r. Ela determina se as células da pele (melanócitos) vão produzir um pigmento escuro ou um mais claro, entre vermelho e amarelo.

Existem dois tipos de melanina: eumelanina (marrom escuro e preto) e feomelanina (amarelo avermelhado e laranja). Mutações na Mc1r fazem com que os melanócitos produzam somente o pigmento claro, a feomelanina. O problema é que a maioria dos gatos alaranjados não tem essas alterações na proteína em questão. Daí, o mistério da cor nos felinos.

Outro ponto estava na mira dos pesquisadores: gatos tricolores (também chamados calicos) ou rajados com tons alaranjados, resultantes do cruzamento de um felino preto com um laranja, são quase sempre fêmeas. Já os bichanos alaranjados são, em geral, machos. Isso sugere que a variante genética que define se o pelo será escuro ou claro está no cromossomo X.

Felinos de pelagem tricolor e rajada com manchas cor de laranja são, em geral, fêmeas.
Felinos de pelagem tricolor e rajada com manchas cor de laranja são, em geral, fêmeas. (Crédito:Pixabay/ Minka2507 e Miezekieze)

Uma equipe de geneticistas da Universidade de Stanford coletou mostras de pele de fetos de quatro gatos laranjas e de quatro não-laranjas. Os pesquisadores mediram a quantidade de RNA que cada melanócito estava produzindo e investigaram qual gene estava envolvido no processo.

Eles notaram que os melanócitos dos felinos de tom laranja produziram 13 vezes mais RNA de um gene chamado Arhgap36, que está localizado no cromossomo X. Isso os levou a pensar que, enfim, estavam com a chave da cor laranja na mão, reportou a revista Science.

Os pesquisadores, então, estudaram a sequência genética do Arhgap36 em gatos laranjas. Eles descobriram que, nesses felinos, a questão estava em um trecho do DNA do qual não se conhece com exatidão a sequência genética. Ele poderia estar envolvido na regulação dos melanócitos.

Um banco de dados com o genoma de 188 gatos também foi usado. A equipe descobriu que os gatos laranjas, tricolores e rajadinha tinham a mesma mutação, confirmando os resultados sobre o Arhgap36.

No Japão, outro grupo de pesquisadores estava focado no mesmo tema. Os dois times atuaram de forma independente. No caso, o estudo envolveu 24 gatos selvagens e domésticos. Foram analisados ainda 258 genomas de outros bichanos, coletados ao redor do mundo. Os cientistas japonesas notaram que a pele de gatos rajados e tricolores tinha mais RNA Arghap36 em regiões laranja do que em áreas marrons ou pretas.

Como pontua a Science, os dois grupos – cujos estudos ainda irão passar por revisão de especialistas – descobriram também que aumentar a quantidade de Arhgap36 em melanócitos ativa uma via molecular que muda as células para a produção de pigmento vermelho claro. É, de fato, outro processo biológico que determina nos felinos o tom laranja, em comparação ao que ocorre nos demais mamíferos.

E, sim, os cientistas confirmaram que a mutação ligada à cor laranja está associada à inativação do cromossomo X. Como os machos, que são XY, têm apenas um desses cromossomos, eles têm a prevalência do laranja, sem a presença de pigmentos escuros. A manifestação de outros tons acontece com as gatas tricolores e rajadinhas. As fêmeas, como aprendemos na escola, são XX.